O pedido de socorro foi ouvido do além
Era mais uma noite normal de patrulhamento na cidade de São Gonçalo no Rio de Janeiro, a patamo (Blazer), deslizava suave sobre a BR 101, os policiais pensavam em parar em algum posto para comer alguma coisa, o tempo estava chuvoso e fazia frio. De repente, no rádio da viatura uma solicitação de atendimento a uma ocorrência no bairro de Guaxindiba foi ouvida pelo motorista que aguardava os outros colegas que a essa altura já voltavam com sacolas de lanches da loja de conveniência. A mensagem pedia prioridade, um veículo com uma família havia sido sequestrado por marginais. O cabo piscou os faróis pedindo que acelerasse a passada, os policiais entenderam e apertaram o passo, ainda mastigando se dirigiram para a ocorrência.
Havia quatro policiais na patamo, três portavam fuzis, mas não foram suficientes para combater mais de quinze marginais que estavam em tocaia naquele local, a denúncia era falsa e a viatura recebeu uma verdadeira chuva de tiros ao se aproximar da entrada da comunidade. Às ruas eram apertadas e todos teriam sucumbido naquele instante se não fosse uma manobra digna do filme Velozes e Furiosos feita pelo cabo, de ré em alta velocidade desviava de obstáculos colocados propositalmente pelos traficantes. A balaria cantava firme, os policiais respondiam à altura. Todavia, os vagabundos estavam em maior número e a saída havia sido bloqueada por um caminhão. Não teve jeito, a alternativa foi desembarcar e procurar abrigo, os tiros partiam de todas as direções, eles estava cercados! O cabo num ato heróico correu até Blazer para pedir reforços pelo rádio, mas foi alvejado na perna, continuou no rastejo sendo coberto pelo fogo dos demais companheiros, a munição não duraria por muito tempo. Um pedido de reforço com prioridade foi solicitado pelo rádio, agora era aguardar enquanto sustentavam o fogo. Apesar de estarem em maior número os bandidos eram desorganizados, três deles já haviam sido atingidos pelos policiais, a comunidade ficou às escuras após o transformador ser alvejado por um disparo, a fuga a pé seria uma solução inteligente para a equipe se não fosse os marginais estarem cobertos e abrigados atrás do caminhão. A cadência de resposta aos disparos dos criminosos ficava cada vez mais lenta, um disparo bem feito cada vez que o inimigo tentava avançar, os policiais agiam com profissionalismo e há quem diga que estavam sendo beneficiados por um milagre, que foi ratificado pelo fato que se deu a seguir. Mas antes, darei um saldo da situação: o cabo motorista estava baleado, o sargento fez um torniquete que o pôs novamente no combate, o tiro parecia ter sido de pistola e não lhe causou muitos danos, ele estava sentado atrás de uma barreira feita por um galão cheio de concreto e à sua frente a parede da varanda de um bar lhe servia de escudo. Dois soldados estavam um pouco mais à frente, um estava operando deitado e o outro de joelhos; e do outro lado da rua, atrás de outra barricada sendo protegido pela viatura ao fundo, o sargento. Ou seja, dois lutavam contra os que vinham de frente enquanto dois guardavam a retaguarda, a munição estava escassa. De repente um barulho de trovão, um forte clarão iluminou com uma luz azul aquele local de batalha, uma sirene diferente, aguda e contínua soou em meio ao tiroteio, uma chuva com pingos intermitentes começou a cair. Uma luz vermelha de giroflex se aproximava junto com a sirene, tiros foram ouvidos atrás do caminhão, rajadas de metralhadora e estampidos que lembravam revólveres. Os tiros que vinham da retaguarda cessaram. Abrigados como estavam os policiais permaneceram; uma espécie de pavor tomou conta do ambiente, uma patrulha de militares despontou de trás do caminhão, um comando de cessar fogo foi bradado pelo sargento encurralado. Os militares avançavam e abriam fogo de uma maneira surpreendente, logo tomaram posições estratégicas e os marginais caiam como moscas. Ao perceberem a derrota iminente empreenderam fuga deixando para trás os seus mortos e feridos, assim como os armamentos. A equipe acuada logo tomou posição e passou a operar em conjunto com aqueles bravos policiais que surgiram do nada.Um fato muito inusitado se deu quando conseguiram tirar o caminhão e utilizaram o seu farol para iluminar aquele cenário, a equipe da patamo percebeu que aqueles policiais militares usavam fardas que lembrava o fardamento da década de 1970, e outra coisa curiosa era o fato das viaturas serem um fusca e uma veraneio, o chamado camburão. Um tenente se aproximou da guarnição e perguntou se todos estavam bem. Após receber resposta positiva disse que havia captado o pedido de reforços pelo rádio. Fez sinal para os demais que rapidamente embarcaram nas viaturas e com as portas entreabertas sairam dando cobertura a patamo avariada. A Blazer foi à frente enquanto as duas viaturas cobriam a retaguarda. Ao se aproximarem da BR – 101 avistaram um veículo blindado e um comboio de viaturas que chegavam para dar apoio, mas quando olharam pelo retrovisor a veraneio e o fusca haviam desaparecido
tão misteriosamente quanto tinham aparecido. Quando o reforço foi questionado em relação a demora, disseram que atenderam o pedido no mesmo instante e, que não havia nem quinze minutos que sairam do batalhão. Quando interrogados sobre as viaturas antigas eles responderam com outra pergunta:
- "Que viaturas?"
FIM.