DIA DE FINADOS
Fulano partiu.
Ué, mas ele não tinha marcado viagem de férias?
Sim, mas é que o cio da morte chegou primeiro.
Como assim?
ELA não tem o direito!
Ele combinou comigo de irmos pra pelada domingo que vem.
E agora? Fiquei sem parceiro.
Coitado, tava juntando uns trocados pra comprar um carro melhor.
Fazendo horas extras adoidado.
A velha companheira de muitas batalhas e de 3 filhos
vivia reclamando.
Chegava tarde em casa todos os dias.
Até nos fins de semana.
Antes de chegar, passava no buteco
e tomava um trago pra distrair.
A patroa sempre cismava do cheiro de cachaça,
mas ele jurava que era só uma, prá espairecer.
Nos dias em que ficava em casa
a roncadeira no sofá da sala já era vezeira.
Os meninos não tinham pai; só sustento.
Saía pra trabalhar escuro e voltava nas madrugadas.
Sempre lhe diziam, Fulano, você morre e as coisas ficam aí!
O chefe vai colocar um idiota no seu lugar
e tudo será feito independente de você.
O mesmo carnaval, a mesma feira, o mesmo ofício,
os seus melhores amigos serão melhores amigos de outros.
Você será visitado no máximo em
dois Finados.
Mas ele era turrão.
Preferiu só trabalho.
Deu no que deu.