O ABC da insônia

Quando não há voz humana em resposta a minha voz angustiada na madrugada, sou eu que não parece real e não meus pesadelos que me acordaram pelo seu excesso de sinceridade, só porque eu estou comigo o tempo todo não é garantia que sou real ainda mais no silencio das 3 da manhã. Nesse momento não há como evitar a ansiedade preencher os poros da minha pele, o pior é que isso acontece sempre na mesma ordem, uma rotina de prisioneiro :

Primeiro vem a surpresa de uma falta de resposta, de um socorro, não vir, depois o tempo começa a parecer irrelevante, e finjo que usar o tempo sozinho vai ser útil, uma mentira fútil pra tentar sobreviver a escuridão que toma conta do peito vindo da minha janela.

Segundo vem o cruel pedido, o clamor humilhante pela culpa disso tudo ser minha, porque na culpa há esperança de que caso for minha a culpa o castigo pode acabar e que no fundo eu estou sendo ferido pra melhorar como pessoa e só basta isso para tudo ir embora, é só melhorar como ser humano de dia e de noite.

Terceiro vem a duvida, duvida de estar em um lugar habitável, humano, não teria sido eu que desviei do percurso? Não teria sido eu que não fui interessante suficiente, não tive sucesso suficiente, não fui bom o suficiente, enfim não fui suficiente? Se isso for verdade eu só preciso mudar minha rota pra encontrar a civilidade no viver e sonhar.

Quarto começa a vir a determinação de sobreviver, sim apenas isso, sobreviver a solidão , eu desisto de viver e passo a sobreviver, seja colocando sons bonitos, seja colocando entretenimentos ou comida, quando mais doce melhor, tudo pra fingir que o agora não esta bom, mas logo logo vai melhorar, mesmo que esse logo logo não pareça que vai acontecer .

E Por fim a culpa vem, mas não a culpa que implorei,a culpa amiga, mas a culpa de sentir ter valor apenas se tiver um par de olhos e sorrisos humanos alheios aprovando , a culpa de ser tão vulnerável que todo mundo sabe como me punir, e pior, saber que ao acabar a punição eu estarei feliz de ser afagado novamente pelas mesmas mãos calosas que outrora me feriram. Em troca do afago de agressor dou o que for útil para eles no momento mesmo que me falte, quem são "eles " você pergunta? Na madrugada são apenas corpos sem rostos, sem dentes, sem amor. O sol esta tão distante quando o sono, o que me mantém de pé é apenas saber que essa não foi a primeira noite que passei por isso, mas infelizmente não será a última.