A casa na árvore
A luz do relâmpago iluminou a estrutura no alto da árvore.
- É uma cabana, ali no alto? - Indaguei para Jones.
- Parece mesmo com uma, não é? - Ironizou ele, charuto no canto da boca. - De noite, no escuro, quase poderia me enganar.
Uma trovoada. A chuva estava ficando mais próxima.
- Aquilo é uma cabana - determinei. - E com a chuva que vem por aí, talvez fosse melhor ir buscar abrigo lá em cima.
- Não caia nessa - Jones me segurou pelo braço. - Aquilo não é uma cabana, é uma armadilha.
- Uma armadilha construída por quem? - Questionei. - Há dias que não vemos ninguém nesta selva.
- Eu não sei pelo quê ou quem, mas pode ter certeza do que estou falando. Uma vez, derrubamos uma dessas árvores com uma cabana em cima... não era uma cabana, mas uma planta enorme que imitava uma. Quem entrasse, ficaria preso num grude visguento que ela secreta... como uma papa-mosca gigante.
- Uma planta? E como poderia saber que precisamos de abrigo contra o mau tempo?
- Costumamos achar que somos mais espertos do que o restante do reino animal, o que não dirá do vegetal - redarguiu Jones, sem deixar cair o charuto. - Mas a evolução parece ter dado à esta planta a capacidade de nos enganar justamente com uma falsa sensação de segurança.
- Uma casa na árvore, - ponderei - como as da nossa infância.
- Uma boca e um estômago, prontos para nos digerir - replicou Jones.
E apontando para uma árvore tombada, mais adiante:
- Ali, vamos armar a lona e nos protegermos junto daquele tronco. É improvável que outro raio derrube outra árvore por perto.
Terminamos de montar nosso abrigo improvisado pouco antes da chuva cair. E quando ela veio, a cada relâmpago, a falsa cabana parecia ainda mais convidativa.
Em dado momento, uma luz alaranjada acendeu-se dentro dela.
- Boa imitação de fogueira - avaliou Jones. - Mas não vamos cair nessa.
E me recomendou não olhar mais para cima, até o raiar do dia.
- [24-10-2022]