A despedida de um palhaço.
Aquilo estava deitado no chão frio do galpão que adentrara sem ser convidado, mas como nunca havia sido convidado para nada nem mesmo para existir não sentiu diferença de entrar em qualquer lugar que já adentrara antes.
Estava sem forças, acabou gastando-as atazanando aqueles a sua volta para esquecer da dor que esteve sempre lá, mas não gostava de nomeá-la, pois poderia dar poder sob o seu coração, falando nele, este órgão tão romantizado, a criatura conseguia sentir que seu coração estava fazendo sua dança de despedida, começava a perceber as extremidades esfriando. Preferiu estirar seu corpo de vez ao invés de deixar o destino escolher sua última posição. "Porque NÃO eu? Porque NÃO?" Lamentou a criatura começando a sentir o pouco calor que tinha esvair do seu corpo enquanto sua voz já soava como uma tosse fraca, mas que mesmo assim não impedia de falar seus pensamentos em voz alta pela primeira vez em muito tempo.
Ao olhar para o teto viu pela claraboia no meio da imensidão da noite que tanto admirou um punhado de estrelas cintilando como joias de contos de fadas e forçou o pulmão com o resto do fôlego que tinha para proferir o que sempre guardará pra si. "Qual é o problema de sonhar com um céu sem estrelas? Elas não podem cintilar para todo mundo... não... e jamais piscaram para mim quando eu precisei... nem sequer uma vez... Um céu sem estrelas, seria também um céu que nada cairia dele, mesmo se alguém sacudisse com toda a força, isso é tão bonito... só existiria o véu da noite com uma lua cinzenta como sua única testemunha e todos, independente do brilho de seus olhos, seriam cobertos pelo mesmo céu... sim, isso seria... magico" sentiu que não tinha mais fôlego, mas se forçou a sussurrar pela fria noite uma última vez "Existe maior crueldade do que se roubar o desejo de uma criança sonhar?" Já não tinha mais fôlego, seu coração havia se despedido e já estava descansando do outro lado das cortinas do grande e eterno palco.
Quando essa pessoa já não estava mais ali foi quando finalmente ela pode ser envolvida no véu da noite que tanto admirava, mas que viveu sendo obrigada a admirar sozinha.