O MISTERIOSO LANTERNINHA

Chamavam-no de Lanterninha por causa da lanterna sem pilha que sempre levava aonde ia. Entrava nas lojas somente para conversar com as vendedoras, as quais o temiam por seu olhar invasivo, o hábito de pegar nas mãos delas e dizer enfaticamente o quanto precisava namorar. " Todos os homens têm mulher, também quero uma!", costumava afirmar sorrindo enquanto penetrava os olhos a fundo nas mulheres, de cima a baixo.

Mas Lanterninha nada tinha de normal, era o maluco por todas escorraçado, o doido varrido desprezado, o bobo tarado neurótico por braços e abraços femininos. Por isso andava pelas ruas apontando a lanterna para elas, falando sozinho "Também quero uma!" Tornou-se figura folclórica, inofensiva pensavam alguns, mas assustadora para a maioria.

A ideia fixa de ter uma mulher tirava o sono de Lanterninha, amargurava-o, atormentando seu coração. Assim, num determinado dia de suas andanças piradas, armado com uma faca, ao invés da lanterna que sempre carregava, entrou numa loja já sua conhecida disposto a ter a mulher que queria de qualquer maneira. A primeira que viu, agarrou, encostou a arma no pescoço dela e saiu da loja arrastando-a. Ao passo que ela gritava pedindo socorro ele repetia: " Se todo homem tem uma, eu também quero!"

A rua se encheu de gente amedrontada diante do estranho fato. Chamaram a polícia. Lanterninha não soltava a mulher nem parava de repetir "se todo homem tem uma, eu também quero!" Os policiais vieram rápido, armas em punho, buscando uma maneira de cerca-lo para livrar a vítima do algoz enlouquecido. Num dado momento Lanterninha se viu cercado na rua, a faca sempre pertinho do pescoço da sequestrada. Por um segundo, no entanto, ele levantou a mão que segurava a faca para protestar contra seus perseguidores. Instante esse aproveitado por um policial de escol, que atirou. A primeira bala atravessou a mão de Lanterninha, que soltou a faca e gritou de dor, por instantes largando a mulher, que correu. A segunda bala varou-lhe o pescoço. Lanterninha despencou no chão jorrando sangue. Morto