Um riso no escuro
Acordou bruscamente, um tanto desassossegado, com uma vaga impressão de que estava sendo observado. Na escuridão do quarto, muito escuro, viu a mulher dormindo profundamente ao seu lado e no chão, em um tapetinho, a cachorra sequer se mexia. O sono era tanto que definiu logo que tivera algum sonho e fechou os olhos para dormir novamente.
Dessa vez sentiu uma distante respiração, muito diferente dos roncos da mulher e da cachorra. Quase como se fosse um suspiro. Apoiou-se nos braços e levantou um pouco o tronco. Nada mudara, entretanto. Conferiu as horas e sentiu vontade de ir ao banheiro. Suspirou profundamente, sentou-se na beira da cama e quase teve um troço: era capaz de jurar que havia alguém parado na porta do quarto.
Por um segundo achou que ainda estivesse dormindo e fez uma força enorme para acordar. Gelou por dentro. Um vulto escuro, imóvel e indistinguível, como se fosse uma sombra, parecia olhar fixamente para ele. Estranhamente a mulher e a cachorra continuavam em seu sono profundo. Tentou falar alguma coisa mas não conseguiu… Pelo canto dos olhos notou que estava se adaptando à escuridão e a sombra, ou o que quer que fosse, rapidamente ia sumindo. De fato, como se fosse um pesadelo, simplesmente desapareceu.
Assustado, exausto, suado, esticou o corpo na cama e cerrou os olhos. Sabia que não ia conseguir voltar a dormir tão fácil. Fora um sonho, é claro, nada mais do que isso. Por via das dúvidas, resolveu que não ia sair da cama por nada até amanhecer. Ah, sim, claro, jurou para si mesmo que nunca mais ia beber antes de dormir. O uísque estava bom e tinha exagerado. Foi isso. Uísque paraguaio. Virou-se para o lado e adormeceu
Nem chegou a pegar no sono. Do lado de fora do quarto, no escuro, alguma coisa ria, bem baixinho…