PRELÚDIO
Um descompasso no lado esquerdo do peito
me fez pular da cama às 3 da madrugada.
O coração ora acelerava, ora cessava os movimentos.
Pernas bambas, quase não consegui dar alguns passos.
Sobressaltado, levantei-me e tremulando
quedei-me de joelhos no cômodo ao lado.
Em frases mal formuladas pedi ao Senhor
que não abreviasse meus dias sobre a terra.
Ainda me faltavam planos para serem postos em prática,
sonhos para serem realizados.
Além do mais, o pavor do além-túmulo, do desconhecido,
não raro me toma por completo.
Vi pela janela entreaberta uma velha coruja
que pousou na murada dos fundos do quintal.
Temi ser mau agouro, mas nunca soube que
corujas carregassem esse estigma.
Pela cara do animal, estava mais para faminto do que para ceifeiro.
Já mais aliviado e com ritmo cardíaco retomado,
senti-me envergonhado.
O medo da morte nos faz reagir vergonhosamente.
Meu espírito ainda não evoluiu nesse aspecto.