O bullying

Semanas sem ir à escola. Semanas sem amigos. Apenas trancafiado no quarto e na rotina da cozinha a qualquer cômodo. Atitude desgastante à mãe que além de ver o regresso no filho, conviveu com a ignorância do pai.

— E aí? Está podendo falar? – mensagem simultânea surgida do nada no facebook de Marcone.

Marcone nem respondeu, apesar de reconhecer de quem seria. Era o seu companheiro de sala de aula. Necessitou o emotions de tristeza e espanto reaparecerem três vezes na tela para que o gelo quebrasse.

— Tô levando...

— Que bom! Tá fazendo falta na escola. A galera vive perguntando por você.

— Deve ser a saudade de fazer-me de chacota.

— Que nada! Quem fazia isso já não está entre nós.

— Como assim?

— Desde o dia que sua mãe fez o B.O, a escola chamou os pais de Danilo e Walber. Eles estão afastados. E dizem que os pais deles responderão na justiça.

— Que vergonha!

— Vergonha do que?

— De tudo o que passei...

— Cara, não fala assim. A poeira já abaixou.

— Sei não. Cabeça a mil.

Emotions de tristeza, agora vindo da parte inversa de Marcone.

— Clayton?

— Sim.

— Obrigado por se preocupar comigo.

— Somos amigos. Não precisa me agradecer.

— Difícil. Fui tratado como um ser desprezível. Jurava que todos eram meus amigos.

— Mas somos. É por isso que estamos aqui. Semana que vem terá um evento na escola e contamos com a sua presença.

— Evento do que?

— Gincanas após o intervalo e antes um filme e palestra sobre valorização ao próximo.

— Legal! Mas verei se vou...

— Venha sim. Estamos te aguardando.

Dias passam...

É o dia do evento.

Marcone apareceu na companhia da mãe à escola.

Algo o surpreendeu.

Ambiente todo confeccionado com belos balões e mensagens otimistas espalhadas pelo local: Você é especial! Tua vida nos importa! O seu modo de viver não são crimes: são partículas da sociedade que formamos. Seja sempre bem vindo.

Além dos balões várias fotos e selfs foram expostos sobre a escola. Fotos recordadoras dos momentos bons entre os alunos.

Marcone se surpreendeu mais ainda, ao chegar à sala, o ambiente estaria diferente do normal. O ambiente estaria em formato de U. Na porta, o nome de cada um com a numeração a sentar. No assento identificado um bombom de uma frase otimista.

Não sentiu sobre o olhar de nenhum colega de classe um ato julgador ou tão próximo de seu último dia de aula. Demonstravam diferentes.

Sentou. Não teve força de comer o bombom que o recepcionou. Guardou num dos bolsos da mochila, enquanto avistava que alguns colegas já apoderavam do chocolate e o ingeriam.

A professora iniciou a aula assim que todos sentaram. Cumprimentou a todos. O inicio da aula foi à gincana das palmas. Cada um necessitou desenhar uma das palmas da mão, ao invés de registrar o nome e em cada dedo desenhado registraria uma característica ou sonho.

Tarefa concluída, os trabalhos forma recolhidos. A professora retornou as atividades. Agora, cada um com uma atividade desconhecida em mãos e procurando identificar o possível dono. A pista? Eram poucas, somente as características ou sonhos registrados.

O sorteado para iniciar a descoberta foi o primeiro do lado esquerdo. A cada tentativa conclusiva ou extrapolada dos limites, o autor do desenho teria que manifestar e o investigar do trabalho o recepcionava com a embalagem contida em mãos. Uns, passam somente a embalagem vazia. Eram poucos que recebiam o bombom inteiro.

Gincana já encerrada, a professora perguntou a sala se todos concordaram com a maneira presenteada. A sala riu, noutras ocasiões: manifestaram que não.

A professora concluiu a reflexão da gincana, enfim, aquilo representou nossas atitudes ao próximo, assim como desejamos ser respeitados e tratados com lealdade, assim também devemos oferecer.

A sala silenciou. A professora concluiu de que momento algum foi falado para comerem os bombons, mas que muitos se precipitaram, sem aguardar a decisão a tomar. E assim é a nossa vida, tomamos atitudes por empolgações, sem refletir das ações a serem dadas. Nossas atitudes ou gestos devem ser pensados e refletidos, pois na vida só colhermos do que plantamos.

Foi corrigido o equívoco aos que estavam com as embalagens vazias e a atividade do dia foi prosseguida: primeiro, colocar no papel a sensação ocasionada mediante o bombom ofertado ou recebido do colega. Segundo: todos deveriam assistir ao filme sugerido pela professora e registrar no mais tardar a reflexão do qual o mesmo lhe trouxe.

escritor Rogério Rodrigues
Enviado por escritor Rogério Rodrigues em 13/05/2022
Código do texto: T7515010
Classificação de conteúdo: seguro