Sirra

Ante as fases da vida, as que passei ou não, aguardo sentado um pôr do sol que não chega. A força que me envelhece também arrebata-me para o chão. Não resisto, volto ao solo seco, com lágrimas no rosto e tristeza na fala; é essa tetricidade irredutível da vida: que traz-me sombras esquecidas e naufragadas pelos mares que me banho e afogo-me, mares da minha mente. Poderia ser ou não um modo de salvar-me das tentações que assolam meus sonhos, em estado onírico vivo pleno, intenso, quando abro os olhos minha face está desfigurada como se eu não me reconhecesse nem existisse. Tantas lembranças vagando entre os milésimos de segundos que constroem a nossa vida e uma imagem permanece fixada na parede da memória como uma obra dadaísta: não sei se tem ou não sentido. Mesmo com uma nítida luz resplandescendo, trazendo-me a tona o brilho da íris destrutiva e o diáfano cabelo marfim, sigo entre os dias espaçados contornando o frio que me persegue. Aquém de mim querer ser alguma coisa. Antes disso só tenho desejos infundados que remetem a alguém perdido no tempo. Ando cego pela calçada vendo as pessoas transitando cegas, surdas e mudas, a não ser quando há próprios interesses envolvidos. Como eu buscam respirar aliviados mas o ar da cidade é seco e poluído de fumaça de combustível.

Álvaro Augusto
Enviado por Álvaro Augusto em 10/05/2022
Código do texto: T7512903
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