Perdido nos Plátanos Paraninfos
Sybell parecia genuinamente arrasada, e Peter Key sentou-se no braço da poltrona, ao lado dela, e começou a massagear gentilmente uma das mãos da mestra entre as suas.
- Juro que não foi de propósito - disse ela por fim, erguendo a cabeça.
- O que não foi de propósito? - Indaguei, intrigada.
- O que aconteceu com Eastyn Cryppys - prosseguiu. - Ele era o dono dessa torre... e do grimório que não é grimório.
- Ah - deixei escapar. - Então, você matou esse Cryppys e tomou o lugar para si.
- Não! - Sybell arregalou os olhos, perplexa. - Não matei ninguém... ao menos, não diretamente, creio.
- Desembuche - determinei.
Sybell suspirou e passou a mão livre pelos cabelos, evitando me encarar enquanto falava.
- Eastyn me convidou para morar com ele... andava me paquerando fazia um tempo. Bom, eu resolvi aceitar.
- Vocês brigaram? - Questionei, mão no queixo. - Você fez o Peter Key, ele teve um acesso de ciúmes...
Sybell balançou negativamente a cabeça.
- Peter Key veio depois que Eastyn... bom, que ele desapareceu. Essa torre tem posicionamento dinâmico, você sabe.
Balancei a cabeça afirmativamente, tentando imaginar onde a história iria parar.
- Ela desaparece dos lugares em intervalos regulares... Eastyn era um misantropo, nem imagino como passamos tanto tempo juntos...
- Deve ter reconhecido algo semelhante em você - repliquei, sem querer soar irônica.
Sybell prosseguiu, sem parecer me ouvir.
- Eastyn sempre me dizia para não mexer nos cristais de navegação, que eram muito sensíveis e se desregulavam com facilidade... e uma vez, quando ele estava fora, nos Plátanos Paraninfos, fiquei aborrecida porque estava demorando muito e me deixava sozinha nessa torre fria...
A voz dela foi baixando e ficou quase inaudível. Completei as lacunas.
- E então, você resolveu dar uma volta e mexeu nos controles.
Sybell fez um gesto de cabeça.
- Eu não pretendia demorar, só ia visitar umas amigas. Eastyn demorava tanto que nem ia dar pela minha ausência...
Ergui as sobrancelhas.
- E quando você voltou, ele não estava lá, te esperando, furioso.
Outro gesto de cabeça afirmativo.
- Ele não estava lá - admitiu em voz baixa. - Esperei um, dois meses, até ter certeza de que ele não iria mesmo voltar e... bom, fui para outro lugar.
Entrelacei as mãos no colo e recostei-me na poltrona, em silêncio; precisava processar o tanto de informação que me fora passada nos últimos minutos. Finalmente, aprumei o corpo e encarei Sybell:
- O Cryppys desapareceu nos Plátanos Paraninfos? Nem posso te acusar de assassinato, pois para um homem, deve ser um ótimo lugar para sumir.
Ela me encarou com uma expressão vazia.
- Apesar de tudo, eu sinto a falta dele - confessou.
- [Continua]
- [06-05-2022]