Caminho alternativo
Na noite seguinte, uma hora antes do nascer da lua, chamei um Leafty pelo celular e dei as coordenadas da torre de Sybell Wexcombe. O motorista encarou o endereço com ar pensativo.
- Quer que pegue o atalho pelas Ilhas Flutuantes ou sigo pelo caminho normal?
- As coordenadas que lhe dei não ficam em terra? - Questionei intrigada.
- Essa torre tem posicionamento dinâmico - explicou ele, apontando para a tela do GPS no console do aerocarro. - Quem mora nesse local deve gostar muito de privacidade.
- Nem imagino porque - desconversei. - Siga pelo atalho, então.
- Melhor apertar o cinto - sugeriu.
O tal atalho, como descobri cinco minutos, passava por meia dúzia de dimensões secundárias, algumas bastante bizarras, com nuvens de fogo e cascatas que despencavam no vazio. O motorista parecia encarar tudo com normalidade, como se fizesse aquele itinerário várias vezes por dia.
- Na verdade, faço mesmo - declarou, quando fiz essa pergunta. - Muita gente têm adotado o posicionamento dinâmico, de uns tempos para cá, e passar pelas Ilhas Flutuantes economiza tempo e combustível.
"Muita gente" eu até entendia, principalmente se você está fugindo de credores ou da polícia. Mas Sybell Wexcombe? Aquilo não fazia sentido.
Ou fazia? Afinal de contas, ela me convidara para lhe explicar algo sobre o uso de tecnomagia; ou assim dera a entender.
E se o que ela queria realmente era escapar de alguma enrascada em que se metera?
- Isso não está me cheirando bem - acabei pensando alto.
- Como disse? - O motorista olhou para mim pelo retrovisor.
- Desculpe, não é com você - redargui. - Falta muito?
- Quase lá. Falta só atravessar uma Tempestade Permanente.
A tempestade, como seria de esperar, tinha raios, trovões e rajadas de vento inesperadas em meio a uma chuva que caía quase que na horizontal. Não recomendo a experiência, principalmente se você houver acabado de comer.
Finalmente, por uma fenda nas nuvens, avistei a torre solitária, erguendo-se no alto de um promontório rochoso a cavaleiro de um mar encapelado. O Leafty desceu abruptamente. Havíamos chegado.
Depois de pagar a corrida, e pedir ao motorista que aguardasse até que eu entrasse (afinal, aquele poderia ser o lugar errado), bati à porta da torre. E quando esta foi aberta...
- Quem é você? - Indaguei boquiaberta.
- [Continua]
- [29-04-2022]