A teoria do tubo de ensaio
Pois bem, cá estou com o mal agouro de uma pequena rachadura na minha superfície, não é nada alarmante que eu não possa resolver, é que meu senhorio colocou uma pequena gota de ácido fluoroantimônico e não suportei a corrosão, mas sobrevivi apenas do pequeno trinco arrastado na minha base, as vezes eu tento suportar mais do que deveria, mas fui feito para isso, não quero opinar ou questionar o por que de me usarem assim, eu realmente não me importo, de vez em quando eu tento me impor, mas ninguém me escuta, afinal sou pequeno demais para ser ouvido.
Outro dia estava ele, eu e alguns de seus seguidores para iniciar uma nova experiência, dessa vez armazenaram em mim uma mínima parcela de dimetil cádmio, por conta da minha ranhura vazou um pouco, um dos alunos sentiu o gás tóxico, as últimas notícias que obtive dele, bom, ele está com um câncer muito agressivo, a culpa foi minha, mesmo assim ele ainda me quis, por que ? Não sei, mas ainda estou me esforçando para ficar ao seu lado, me esperou por tanto tempo e vice-versa que não posso decepciona-lo, necessito dele para me preencher!
Bom, isso me lembra uma aula engraçada que participei certa vez, ele e mais uma colega estavam destilando tioacetona em mim, estava indo muito bem até que o remendo que fiz caiu, vazou na hora o cheiro horrendo, bem na hora em que os dois se beijavam, ela vomitou nele e ele desmaiou, foi muito divertido de participar, não fiz de propósito mas daquela vez não implorei migalhas de afeto, pelo menos naquela vez.
Depois de um desentendimento eu percebi a cruel verdade de que eu sou apenas um tubo de ensaio descartável, quem liga? Eu tenho validade assim como ele, como eles, como qualquer outro ser ou coisa que habita nesse minúsculo planeta, dito isso o que me resta? O que me prende aqui? Mas eu estou aqui para descobrir, ou talvez eu não esteja por mim, não dá para viver rachado com ele tentando me preencher com sua crença de que eu suporto qualquer substância, eu não sou química, eu sou fábrica vazia...
Tudo bem, eu posso suportar um pouco mais, amanhã por exemplo o dia será cheio, ficarei cheio de anatoxicina pela manhã, no finalzinho da tarde os amigos do mercado negro dele virão com resquícios de Tabun para novos estudos e na aula que haverá pela noite eles farão pesquisas acerca da ricina, pouca coisa para quem já suportou o TCDD por 12 horas, sinceramente eu adoraria trabalhar com amianto, seria um final digno para mim.
Hoje ele estava bravo pois não estava a altura de outros equipamentos que estão ao redor, sinto que ele irá me abandonar, não suportará meus vazamentos, nossa relação se balança, desde um transbordamento de cólera que acontece, até o incômodo que ele tem por ver meu vazio, mas não posso falar para ele sobre algumas coisas, eu tenho algumas soluções para me consertar, ou aceitar que nem tudo tem salvação, mas ele, ele as vezes me quebra, eu acredito fervorosamente que é sem querer, não sei se aguentarei até amanhã...