Café à toa...
Sêo Acácio pegou a mulher e a meninada naquela tarde de domingo, e rumaram a pé pra casa do compadre Eleutério, cuja mulher havia dado a luz há coisa de duas semanas. A visita se impunha, na moldagem social daqueles tempos. Não podia ser cedo demais, nem muito tarde.
E enquanto forravam o estômago com feijão com angu e quiabo, Acácio advertiu à prole, que começa por Joãozinho, de onze anos, passava por Mariinha, de oito, Zé Afonso, de seis, Taquinha, 3 e por último Delmiro, ainda de colo... e foi peremptório:
- Cês come direito, porque o compadre é unha-de-fome. Não pode isperá nem pidi nada de comê lá...Quando muito, pode saí um cafezim, sem nada...
E a visita se deu. Troca de amabilidades, bons votos ao bebê... e a prosa já ia caminhando pro seu esgotamento, quando vem finalmente o café, trazido à mesa pela primogênita do casal Eleutério e Sabina, Erecina, de seus 13 anos...
E o café, como previra Sêo Acácio, chegou só. A meninada toda se entreolha quando, de repente, Joãozinho enfia a mão no bolso e arranca um biscoito frito e, olhando à volta de si, para o espanto geral, arremata:
- Eu cá que num tomo café à toa...