Um Lugar Insólito
Havia um pátio limitado por estátuas. Jacentes umas, cegas todas. Ao centro, o banco de pedra posto para que, com distância, as olhassem. O lugar foi chamado de meditação e todos os que traziam leveza ao chegar emudeciam pelo peso daquela ausência povoada de silêncios, de gente de pedra ou bronze, de todas as evocações virtuais. O fim era de paredes brancas, muito altas, enquadrando o céu nem sempre azul.
Quando, nas suas costas, se fechou a porta e se viu ali, só com quem não estava, o rosto fechou-se e um arrepio tomou o corpo inteiro. Nenhum som, movimento ou vida havia naquele espaço. De cansaço adormeceu no banco. Poderia aguardar ali a liberdade, quieta, como alguém que poderia ser outra estátua. Em vez disso, ergueu-se, visitou todas as figuras, tocou-as, falou-lhes. Algumas ganharam olhos, outras sorriram, todas acordaram de um sono de imobilidade para uma vida intensa.
Havia jogos, danças, acrobacias e água corria de uma fonte que não vira. Olhando melhor constatou que o pátio se dilatara, as paredes desapareceram e que a porta estava aberta. Uma das imagens, efebo nu, estendia-lhe as mãos e sorria. Logo que ambos saíram do lugar mágico apareceu uma mulher forte e rude. Era a realidade. Perturbaria tudo, apagaria o sonho, acabaria com as estátuas e mudaria o silêncio para vozearia de escritório. Pela fresta da porta do seu gabinete viu que as estátuas estavam vivas e algumas trabalhavam.