UM NATAL PARA NUNCA ESQUECER

Manhã de Natal no bairro tranquilo.

O gorgeio dos pássaros só era superado, àquela hora da manhã, pelo som fanhoso do alto falante da igreja da praça, que apresentava em meio à músicas natalinas, o bimbalhar de sinos, gravados, indicando o final da Missa das oito horas, do dia 25 de Dezembro de 1965.

Minutos antes do final da Missa, o silêncio daquela manhã fresca foi quebrado por um grito desesperado de Clementina, viúva, de 80 anos, que morava com o filho Pedro, solteiro, de 51 anos, chamando seu outro filho, casado que morava na casa vizinha:

- José!!! Venha ver o que seu irmão se fez!!!

Na noite anterior, após voltar da Missa do Galo, Pedro escreveu uma carta dizendo que Deus o estava chamando e que ele precisava ir. Descreveu como queria que seus bens fossem distribuídos, deixando a metade de tudo o que possuía, para a Igreja Católica; deitou-se e, cortando a jugular, deixou a vida se esvair até a última gota...

Os gritos desesperados daquela mãe e do outro filho, misturavam-se às músicas fanhosas do alto falante da Igreja atraíndo a curiosidade dos que saíam da Missa...

Aquele Natal nunca mais foi esquecido...

Cléa Magnani
Enviado por Cléa Magnani em 04/01/2022
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