A febre
Do sonho restou pouco. História dúbia. Paisagem urbana qualquer. E nenhuma. A princípio. Tentou se situar. Apurar a feição. Reconhecer o lugar, a rua, a cidade. Disfarces frágeis. Olhares alheios. Casas, ruas, árvores. Nada se revelava. Nenhuma pista. Só a febre lírica, lírica fíbula. Alfinete fincado no fio do frio. No frio da febre. Tergiversações. Atravessou a alameda. A seca, a sede, a seda. A senda. Fechou. Tragou. Tragado. Trafegou. Atravessou o plano. Planou. Por nada. Por tudo. O novo não chega. Nunca chega. Jamais. Jamais – em francês. Tentou a porta. Outra porta. Tremeu. Correu. Pela paisagem urbana. Tempo outro. Idade outra. Não era mais. Não era. E era. Era. Outra era. Pé no sonho. Pé no mundo. Pé no espaço. A pé. Ao pé da letra. Meteu o pé. Meteu onde não. Onde não é. Passou. Passeio. Passinho. Fé. Cruz credo. Soltou o verbo. Soltou a voz. V e r b i v o z. Era sua voz. Era sua vez. Não. Sim. Quanta comoção. No olhar admirando admirado mirado. Mirrado. Mirra. Incenso. Senso embotado. Caminhou sem eira. No delírio. Lírio. Caminho de lírios. Flor quente no peito. No sonho. Flor feito faísca fisgando. Chispando na face. E some. Sumiram. Casas. Ruas. Luas. Só a febre. Na nua testa lua. Só a febre. A febre. Transcendia.