A LARANJADA DA AVÓ
Os verões na chácara da avó eram esperados ansiosamente. Nadar no rio, bolo de fubá ou macaxeira com laranjada à tarde, brincar com os bichos, tudo era bom. O melhor era a velhinha, toda amor e desvelo com os netos. Os filhos diziam que não lembravam do pai, fugira com a tia quando eles ainda eram meninos. Todo fim de tarde a anciã ficava uma ou duas horas sentada no laranjal, falando sozinha. Ninguém ligava, a todo velhinho se permite uma esquisitice.
Ela morreu e os filhos, para tristeza dos netos, venderam o lugar já no velório para uma empreiteira e dividiram o butim. Dois meses depois escavadeiras encontraram debaixo dos pés de laranja duas ossadas. Um homem e uma mulher abraçados.
A perícia afirmou que morreram a golpes de martelo.