LABAREDAS
Da favela erguiam-se enormes línguas de fogo que pareciam tocar o céu. Os bombeiros tentavam em vão afastar as pessoas das labaredas, mas elas continuavam por ali. Procurando parentes, tentando recuperar seus parcos pertences, trazendo água como o passarinho da fábula. Ninguém reparava naquela criança de 8 anos que olhava fixamente aquele inferno, com lágrimas nos olhos e um sorriso:
"Eles vão arrumar um lugar melhor prá gente morar mãe. Tem até repórter com câmera, A senhora vai ver. E ele nunca mais vai por a mão em você."
Com os dedos brincava com o isqueiro no bolso e lembrava orgulhoso do momento em que jogara o resto da garrafa de pinga nele e ateara fogo.