A dois passos do Paraíso

José e seu cão morreram atingidos por um raio. Após o choque inicial, os espíritos dos dois resolveram procurar o tal “túnel de luz” que os guiaria até o Paraíso. Andaram até ficarem exaustos e sedentos. Surpresos ao perceber que espíritos sentiam as mesmas limitações do corpo físico, continuaram a caminhada. Talvez um oásis se materializasse naquele deserto de estrada poeirenta...

No alto de um morro, depararam-se com um castelo belíssimo, circundado por um jardim padrão Burle Marx. Pelas grades, divisaram fontes de águas cristalinas onde ninfetas semi-nuas se banhavam. Dirigindo-se ao guarda-portões, José perguntou que lugar era aquele. Informado de que chegara ao Céu, José pediu para entrarem. O guarda apontou o aviso com as regras do local: animais não eram permitidos e quem entrasse não poderia mais sair. O guarda ratificou : para saciar a sede, José deveria despedir-se, em definitivo, do seu cão. José titubeou : grande era a sede, mas maior era a amizade por aquele fiel animal. Resolveu prosseguir ( não deixaria um amigo de tantos anos ao deus-dará ), estranhando que o Paraíso fosse tão diferente do que imaginara quando vivo.

Após muitas horas de caminhada, chegaram a uma porteira semi-aberta, que dava para um sítio. Percorreram um caminho de árvores frondosas. À sombra de uma das árvores, descansava um homem que indicou-lhes uma fonte onde ambos poderiam beber à vontade, encher cantis que se encontravam providencialmente à mão e ainda deliciar-se com as frutas do pomar contíguo. Após se fartar, José agradeceu ao fazendeiro pela acolhida e, curioso, perguntou-lhe o nome do sítio. Foi informado que ali era o Céu.

- O homem à porta do Castelo disse que lá era o Céu... – contemporizou José.

O fazendeiro explicou-lhe que o lugar suntuoso, uma miragem, era o Inferno. Depois do portão, abria-se um abismo eterno. Lá ficavam os inescrupulosos, capazes de sucumbir às tentações terrenas. Encontrariam, após a morte, o mesmo que encontraram na vida – a decepção e o vazio, após caírem-se as máscaras da vaidade e orgulho. A boa notícia é que não ficariam lá para sempre. Quando se dessem conta dos padrões viciosos de comportamento e decidissem modificá-los, teriam que vencer um grande demônio e depois bateriam à porta do Céu. O demônio, o fazendeiro continuou, chamava-se Iniqüidade e residia no interior de cada homem, causando dor, fome e destruição onde deixassem que a besta exercesse a soberania.

E agora, José?

"Ó tu, moço ou jovem, que te julgas abandonado pelos deuses, saiba que, se te tornares pior, irás ter com as piores almas, ou, se melhor, juntar-te-á às melhores almas, e em toda sucessão de vida e morte farás e sofrerás o que um igual pode merecidamente sofrer na mão de iguais. É esta a justiça dos céus." Platão

História recontada do folclore mineiro, a partir de uma versão que circulou recentemente na internet, sem autoria conhecida.

Maria Paula Alvim
Enviado por Maria Paula Alvim em 13/11/2007
Reeditado em 20/11/2007
Código do texto: T735877
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.