NHAMBEDE CAIU NA SUA PRÓPRIA ARMADILHA
Nhambede nasceu no distrito de Marromeu, província de Sofala, no ano de mil novecentos e cinquenta e sete, frequentou a sexta classe do antigo sistema de educação e não mais progrediu com os seus estudos.
Desde cedo tornou-se num grande produtor de cana-de-açúcar. Ainda na tenra idade, ajudava os seus pais na plantação, numa grande fazenda que tinham no bairro de Chueza. Era um menino muito obediente e sempre disposto para trabalhar, por isso aprendeu rapidamente com os seus pais as técnicas de plantação. Os seus pais eram grandes produtores e eram conhecidos no distrito inteiro, eram os melhores produtores de cana-de-açúcar. Logo após a colheita vendiam o produto para a fábrica de açúcar. Ganhavam muito dinheiro porque tinham uma parceria com a fábrica Açucareira de Sena e eram os melhores fornecedores.
Foram muitos anos produzindo e vendendo muita cana. Com o dinheiro conseguido da venda, os pais de Nhambede ergueram grandes infra-estruturas, entre casas e fazendas, onde para além da produção de cana-de-açúcar, criavam gado bovino. Economicamente a família do menino Nhambede estava bem e era respeitada em todo Marromeu. O menino cresceu trabalhando arduamente na plantação e na criação do gado, não tinha preguiça de trabalhar e por via da sua disponibilidade, entrega e coragem, aprendeu muito sobre plantação e criação, e também adquiriu muita experiência do trabalho de campo.
Depois de muito tempo trabalhando no campo, os pais de Nhambede já não podiam fazer muito esforço porque a sua idade já estava num estado avançado. Para tal, tinham de deixar todo o trabalho e toda a gestão nas mãos do seu único filho, que já tinha o conhecimento suficiente sobre o trabalho que desenvolviam.
Com apenas dezoito anos, Nhambede assumiu a gerência das fazendas dos seus pais e continuou com os trabalhos. Conseguiu arrecadar muito dinheiro com a venda de cana-de-açúcar e do gado.
Em pouco tempo, tornou-se num dos jovens mais rico de toda a região de Chueza e do distrito de Marromeu. Por causa da sua situação económica, que era bastante estável, a cobiça das pessoas pelos seus bens era maior, as moças da zona o assediavam frequentemente e os assaltos à sua residência e fazenda eram frequentes, sendo que Nhambede já não levava uma vida sossegada no meio de tantas perseguições.
Embora os pais não tivessem forças para trabalhar e gerir o negócio da família, sempre ajudavam moralmente o seu filho, aconselhando-o a não gastar dinheiro com coisas fúteis e procurar investi-lo em algo rentável que pudesse beneficiar a família para a vida inteira, assim como eles fizeram. Nhambede como sempre, obediente e trabalhador, acatou o conselho dos seus pais e começou a investir na abertura de mais campos de plantação.
Em pouco tempo, a família Nambede já tinha mais de seis campos de plantação e mais de dez mil cabeças de gado bovino graças ao esforço e dedicação do menino Nhambede.
Diante do crescimento bombástico da economia da família, os roubos e as vandalizações nos campos de plantação começaram a aumentar cada vez mais. Gados roubados e plantações destruídas eram frequentes todos os dias. Por isso houve a necessidade de reforçar a segurança na fazenda.
Nhambede decidiu electrificar o cerco que cobria todo o curral de bois, de modo que quando os assaltantes tentassem entrar, ao agarrarem o arame farpado tivessem um choque eléctrico. A mesma estratégia usou para o campo de plantação de cana-de-açúcar, tendo electrificado o portão principal, assim como os postes das entradas laterais.
Quando chegasse a noite, por vezes ele ligava pessoalmente ou mandava o guarda ligar a corrente eléctrica e desligava no dia seguinte de manhã, muito cedo.
A estratégia resultou. Em pouco tempo, o número de roubos e vandalizações diminuiu, cada vez que os assaltantes tentassem entrar no curral ou no campo de plantação, ao tentarem pular o cerco apanhavam um grande esticão e acabavam por desistir por medo de morrerem electrocutados. Mas um dia, o inesperado aconteceu.
Nhambede mandou o seu guarda ligar a corrente eléctrica e ele o obedeceu. Depois de ter ligado naquela noite, o guarda meteu-se na bebedeira e bebeu demais até não conseguir andar. Ficou dormindo até o dia seguinte e esqueceu-se, por causa da grossura, de desligar a corrente eléctrica.
No dia seguinte muito cedo, o patrão Nhambede foi a fazenda com o intuito de verificar se estava tudo em ordem. Quando lá chegou, chamou pelo guarda e este não respondeu porque ainda estava dormindo. Como era de hábito desligar-se a corrente nas manhãs, Nhambede pensou que a corrente já estivesse desligada e que o guarda havia ausentado por uma necessidade qualquer. Por isso aproximou-se do portão principal no sentido de entrar no curral e verificar se tudo estava em ordem. Quando segurou o portão de metal na maior inocência do mundo, o esticão provocado pela corrente eléctrica que ainda estava ligada foi tão grande que o deixou estatelado no chão sem os reflexos.
Nhambede perdeu os seus sentidos na hora e quando o guarda despertou já era tarde, o seu patrão já estava morto e não havia mais nada por se fazer.