Ouvidor dos Mortos
Michael, o Caça-Fantasmas, conheceu sua namorada Glenda numa cafeteria onde ele costumava passar as tardes em frente ao laptop, aguardando algum eventual cliente entrar em contato. A princípio, Glenda imaginou que ele estivesse em trabalho remoto e que ficar longas horas na cafeteria era apenas uma questão de conveniência.
- É conveniente mesmo; o Wi-Fi é grátis - confessou o rapaz, no segundo encontro formal entre os dois naquele espaço.
- Estava me referindo aos lattes que você gosta - corrigiu-se ela, apontando para o copo de papel que ele segurava.
- Ah sim; isso também - admitiu Michael.
- E como foi que começou a fazer esse tipo de serviço? - Indagou ela, curiosa.
- Eu trabalhava como vendedor da DeposiLar - recordou o rapaz - e volta e meia tinha que lidar com clientes complicados; poucas vezes tive que chamar um gerente para resolver alguma situação imprevista. Foi então que vi um anúncio para o curso de pós-graduação lato sensu em exorcismo... e achei que poderia transformar meu, digamos, talento natural, numa fonte de renda.
- Expulsar clientes indesejáveis? - Questionou Glenda.
- Alguns só precisam que alguém os ouça - ponderou Michael. - Nem sempre é necessária uma sessão de exorcismo para que vão embora...
E, depois de comer um pedaço de croissant:
- São espíritos que nunca foram ouvidos em vida... o mínimo que posso fazer, é aliviar um pouco a solidão deles.
Glenda acedeu.
- Imagino que a morte deva ser mesmo algo muito solitário.
- [12-09-2021]