Ajuda de viagem

Chão molhado... mole... embarrecido... alaranjado...

Sujava as botas a cada pisada - eram novas. Carregava, com muito esforço, uma coisa estranha que uma senhorinha de 80 anos penava levar; estava caminhando por lá quando avistou-a, e, na flor da juventude, não podia deixá-la a se arrastar com aquilo.

Se ofereceu.

Ela agradeceu.

Dizia, a pobre velhota, o destino. Guiando o rapaz, indo à frente. Ela segurava um guarda-chuva pequeno, se encabulava de apenas ela usar. Tentava, desengonçadamente, dividi-lo, mas mais atrapalhava do que ajudava; desistiu e seguiu como estava, sentindo um desconforto por isso.

Hora ou outra o garoto vacilava.

Escorregava e quase as coisas se estragavam...

Mas quando a força do corpo não é suficiente, vem a caridade para ajudar.

Chegou ao dito local, a velha agradeceu mais uma vez. Disse que ali estava ótimo e poderia seguir o caminho, mas ele previu outra necessidade: viu uma pá por perto...

Se ofereceu mais uma vez.

Ela não quis aceitar, mas nada pôde fazer.

Ele fez.

Cavou um buraco, até fundo; não foi tão complicado como a primeira tarefa. Chão molhado... mole...

Teve também o trabalho de jogar o saco e enterrar tudo de novo, para maior embaraço da senhora.

Tudo feito, partiu novamente para sua viagem... pensando no que tinha feito. Lembrando o que aconteceu e dando-se conta que muito fez inconsciente.

O que havia na sacola? Nunca saberá.

Por que a enterrou? Também não.

Por que num cemitério? Só ela para dizer...

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 12/08/2021
Código do texto: T7319586
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