Roberto e o Pé de Cajueiro.
Na Escola de Aprendizes- Marinheiros do Ceará, havia, nos meados dos anos de mil, novecentos e oitenta do século XX, uma área por trás do campo de futebol, chamada pelos praças e oficiais e repassada para os alunos, de Vietnã. Neste espaço brejado eram realizadas as provas de maneabilidades no fim do período de adaptação, antes de ser feita a matrícula para o curso de marinheiros. Além do brejo, havia muitos coqueiros e alguns alunos aproveitavam o silêncio, a escuridão e a tranquilidade da madrugada, para roubarem cocos nas muitas árvores que existiam no local, com a condescendência dos alunos da turma que davam serviço de sentinela nas guaritas.
Roberto, grumete e cabo Aluno, era um destes adoradores de água de coco. Era conhecidíssimo, entre os companheiros de turma, pela prática, além de Monitor de Pelotão. Entre os boys da turma de aprendizes era conhecido como crente, mas destino foi ingrato com ele.
Certa madrugada, saiu com Rocha, Capitolino e Rubião, para mais uma de suas invertidas, só que se deu mal. Como havia chovido na noite e no dia anterior, o tronco do coqueiro estava escorregadio. Contudo, Roberto chamou seus amigos e foram tirar as frutas dos pés de coqueiros. Aproveitou que o polícia maior, um cabo velho que largava o serviço para ir, ainda uniformizado, num cabaré nos fundos da escola, e partiu com camiseta e calção mescla para a aventura.
- Vamos lá, turma! Tirar uns cocos, agora que o cabo está bebendo no bordel...
Os outros dois companheiros grumetes, após uma leva resistência à convocação, foram acompanhá – lo. Chegando ao destino, acharam que o tronco, devido às chuvas, estava muito escorregadio e já iam desistir, quando Roberto, mais uma vez o incentivou.
- Gente, já que acham que o coqueiro não é seguro, eu vou mostrar como se faz...
Resolveu fazer uma tira amarrada para o apoiar e subiu, mas é preciso dizer que o ás e parceiro de aventuras, o Jânio, estava de serviço no horário (eram três horas da madrugada e ele foi dormir). Então, Roberto, que não dominava direito a técnica de se trepar, foi se meter a fazê - lo. Chegou ao topo sem maiores problemas, mas começou a chuviscar e ele que já havia tirado dez cocos, começou a escorregar e se viu numa situação delicada: ou se escoriava todo ou despencava lá embaixo arriscando até a própria vida. Preferia aquela opção e ficou todo arranhado.
Chegou à enfermaria para falar com o técnico de plantão, um cabo enfermeiro de nome Severo, pedindo socorro com as roupas encharcadas de sangue. O profissional, dentro de suas atribuições, disse ao cabo aluno que ia dar – lhe álcool iodado. Mas antes de passar seria necessário que ele tomasse um banho. Roberto se esforçando para não gritar de dor, trincou os dentes e, debaixo do jato d’água expelido pelo chuveiro passou o sabão, para em seguida passar o remédio. Isso não foi nada, perante a guerra que sofreu dos companheiros e dos aprendizes.