A fuga
À noite a caminhar nas largas estradas de pedra, com uma arrelia nervosa e o olhar atento a tudo em sua volta. Ecoando em sua cabeça cânticos das vozes infantes. Escorria um suor frio na pele pálida, mas, de certa forma, jovem.
Um momento frenético de sua vida.
Sabe-se lá porquê.
Classificaria, talvez, como o mais assustador.
Ninguém o seguia, não havia nele ferimento algum. Nada que olhos expectantes pudessem assimilar àquela agonia. Quem, naquela madrugada, o socorreria? Todos dormiam, exceto uma senhora flagrando a cena da sacada de sua casa, mas julgou ser um bebum noturno, voltando à tediosa filosofação de mesma natureza.
Ele já podia ver o mar transfigurado de diamante derretido. Qual o intuito? Para quê lá ia? Só sei que ia ainda com grande irrequietação. Descia tropegando a rua íngreme, quase caindo, às vezes. Olhava para trás e, vez ou outra, ensaiava uma corrida; estava mesmo fugindo.
De quê?
Naquela escuridão consumativa da noite - seja lá qual delas -, pode ter visto no brilho refletido das águas um lugar para dessas trevas se abrigar...