Som e Fúria
Som e Fúria
Nela, tudo era legível. Ao natural. A vivacidade imperiosa. A inteligência. Um agitação, uma tenacidade oculta . Uma determinação inflexível. Uma prodigiosa fúria!
A conheci na primavera. Floria ao seu redor as dulcíssimas sensações que testemunhamos em momentos onde a vida reclama seu vigor! Onde ela, elas, como Mefisto a Fausto, provocavam estas emoções, apenas por existir e exuberar insinuações que só tomavam corpo na imaginação dos infelizes que caíam na arapuca do autoengano.
Passei toda a Estação imiscuído em resolver o problema que não era um, na verdade. E que, assim, só recrudescia a treva na qual me havia prestado o favor de invadir.
Se fez o verão. O calor das palavras ardiam, criticando o titubear que me assaltava em cada emergir fortuito a se manifestar num rascunho de encontro. Num arranjo de tênues certezas claudicantes. Como todas, por natureza. E ofício.
Passei o que sobrou da elevada temperatura a suar as reticências que só eram rigorosas na falta, peremptória, de tentações. Uma nesga desta, que fosse. Pois, estou com o aforista. Não hei de perder uma sequer! Não se sabe quando o destino há de apresentar-nos outra.
Caí como permite o outono. Despenquei, no poço sem fundo de Demócrito. Para descobrir o que não se pode desnudar, pois a verdade é um sussurro para ouvidos moucos. E, os meus? Ah, os meus! Temo que melhor mesmo era vê-los assim.
Durante a queda escutei o retumbar das coisas que batem no fim que não existe. Dá borda outonal de seus mistérios, ela bruxuleava um sorriso. Ou algo que sugeria. E, eu, condenado, como só estes sabem entender o que não é ser diferente, ia ao encontro do solo duro da realidade.
Eis o Inverno! Eis aquelas adagas enregeladas de indiferença afiada! De objetos perfurocortantes de bordas com fio indefectível! Objetos a sair daqueles olhos de um verde incógnito! O frio comentava com o gelo, ser eu um tolo a fazer as mais escorregadias tolices. Então, chegavam a conclusão que me deviam uma pista onde pudesse o ingênuo escorregar até a eternidade. Uma que acaba assim que essa pista racha e engole o infausto!
Não posso dizer que foi tudo em vão, como é a filosofia acusada pelo bardo inglês. De jeito algum! Amassado pelas quatro, resta-me, ainda assim, o som e fúria. O primeiro, ao ter com o primeiro tom a deixar sua boca. A segunda, ahhh!! A segunda, ao saber que foi-me aríete das elucubrações e que, pelo menos isso, não fiz papel de jovem Werther. Pelo menos!