A filha da bruxa

- Você não é minha mãe! - Gritou Agnes furiosa, dedo em riste para Parnell.

A velha apenas riu, mãos nas cadeiras.

- Ah, é verdade... não sou mesmo.

E inclinando-se sobre a garota:

- Você quer voltar para seus pais? Quer muito?

Agnes engoliu em seco. Baixou o braço, sua expressão abrandando-se diante daquela perspectiva desagradável.

- Não; eu não quero - teve que admitir.

- Então, faça o que eu mandei; quero ver aqueles tachos de cobre brilhando, como se fossem novos...

E diante da expressão amuada de Agnes:

- Sim, eu mandaria você fazer isso se fosse minha filha de sangue; e também alimentar os porcos... ordenhar a vaca... catar lenha na floresta...

- Você não me deixa brincar com as outras crianças - lamentou-se Agnes. - É só trabalho, nenhuma diversão!

Parnell lançou-lhe um olhar cansado.

- Já conversamos sobre isso; as outras crianças não gostam de filhas de bruxas... e bruxa é o que eu sou, correto?

- Isso não é justo... - resmungou Agnes, braços cruzados. - Você não é minha mãe... não de verdade...

- Sua mãe ia trocar você por um cesto de alfaces, lembra? - Retrucou. - Você acha que trabalha muito aqui? Nem queira saber o que teria que fazer se aquele negócio fosse fechado...

- Só não acho justo não ter com quem brincar - Agnes continuava amuada.

- Talvez eu possa resolver isso - redarguiu Parnell pensativa. - Desde que você não se importe que não sejam crianças humanas...

- Não, eu não me importo - afirmou Agnes.

Parnell a encarou com um pouco mais de simpatia.

- Talvez finalmente você esteja começando a entender o que é ser a filha de uma bruxa... mesmo que adotiva. E que tal um bicho de estimação? Você gostaria de ter um?

Agnes balançou a cabeça afirmativamente.

- Um gato... - sugeriu Parnell. - Um belo gato preto...

- [20-05-2021]