Em direção à luz
Passava de uma da manhã e Alan Michael Anderson estava iniciando a ronda pelo perímetro externo do galpão da Hexenringe, quando os alarmes soaram dentro da construção. Aturdido, a princípio ele pensou tratar-se do alarme contra incêndio; um outro segurança, Kyledyr, desfez o mal-entendido ao passar correndo por ele.
- Vazamento no Sondertransport! Vamos!
Anderson o seguiu, mesmo sem entender direito a referência. Vazamento de que tipo? O veículo continha alguma substância radioativa? Somente ao entrar no galpão e ver mulheres e crianças em macacões vermelhos, correndo por entre os atônitos funcionários em uniforme verde da Hexenringe, que compreendeu o que estava ocorrendo: os prisioneiros estavam fugindo.
- Carwyn! Kyledyr! Atrás deles! - Vaddon, o chefe da segurança, desceu do pavimento superior gritando ordens para os subordinados. - Miguel, vá para a plataforma do Sondertransport e vigie as portas de acesso!
Agora Anderson - ou Miguel - entendia a razão de haver tantos seguranças para uma instalação de porte apenas mediano: tratava-se de conter eventuais "vazamentos". Não havia perigo real dos fugitivos conseguirem evadir-se do perímetro do depósito, que era bem protegido por cercas elétricas e encantamentos de contenção, mas enquanto não fossem conduzidos de volta à plataforma do Sondertransport, as atividades rotineiras tinham que ser paralisadas.
Anderson subiu os degraus que conduziam à plataforma, e viu que o caminhão baú ainda estava com as portas traseiras abertas. Já as portas que davam acesso ao exterior do prédio, estavam entreabertas; ele encaminhou-se para fechá-las, quando uma mão pálida de mulher saiu de lá dentro e o puxou pelo pulso. O gesto foi tão inesperado que ele não teve tempo de emitir qualquer som; quando deu por si, as portas haviam se fechado atrás dele.
- Adotado! - Exclamou a mulher, rosto praticamente colado no dele. - Invoco a proteção do clã! Você tem que me ajudar!
- Você fala a minha língua? - Questionou, surpreso.
- Sou a agente especial Morwenna, estou infiltrada entre os refugiados - explicou ela. - E também sou uma licantropo, portanto você me deve auxílio como membro de clã!
- Eu não posso ajudá-la a fugir - explicou Anderson, atarantado. - Não há como sair daqui sem autorização do chefe de segurança, e ele certamente vai matar você, se souber quem é!
- Estou ciente disso - replicou Morwenna. - Criei uma diversão com os ucranianos, para ter tempo de me infiltrar neste ponto de passagem.
E fez um gesto para o fundo do corredor, onde um brilho azulado preenchia o espaço onde ficava a tenda localizada no lado de fora do galpão.
- Você sabe aonde aquilo vai dar? - Questionou Anderson.
- Tenho uma boa ideia - afirmou Morwenna, puxando-o pelo braço. - E você vai vir como refém, caso encontremos uma patrulha ou coisa parecida do outro lado.
- Se entrarmos ali, não vamos conseguir voltar! - Exclamou Anderson, apavorado. - As portas só abrem pelo lado de fora!
- Eu prendi um pedaço de ferro numa das dobradiças - redarguiu ela. - Depois do reconhecimento, vamos poder abrir pelo lado de dentro.
- E o que eu vou dizer, se me perguntarem o que estou fazendo aqui? - Questionou debalde, enquanto era arrastado inexoravelmente em direção à luz.
- A verdade; - retrucou Morwenna sem afrouxar o aperto no braço dele - que você veio atrás de mim, mesmo contra a vontade! Talvez ganhe até um aumento!
Anderson duvidava muito disso, mas não tinha como escapar. Ouviu Morwenna recitar um encantamento num idioma desconhecido; depois, a luminosidade os envolveu por completo.
- [19-04-2021]