Agência de empregos
- Alan Michael Anderson - a funcionária da agência de recolocação leu em voz alta o nome dele na ficha de registro, e ergueu os olhos para encará-lo. - Interessante, são três nomes próprios.
- Anderson é o sobrenome - comentou, de forma retórica.
A mulher estava lendo o histórico dele na ficha, até chegar ao registro mais recente.
- E o que houve na última vaga para a qual o mandamos, Anderson?
- Bem, eles estavam procurando um vigia noturno... parecia algo adequado para mim - afirmou Anderson. - Mas, infelizmente creio que houve uma pequena confusão em relação à minha origem; não vou pôr a culpa neles, é algo até bastante comum acontecer.
- Na sua ficha, consta que você é filho de licantropos - leu ela. - O contratante queria alguém que fizesse a ronda transformado em lobo, de vez em quando.
E, arqueando as sobrancelhas.
- Na lua cheia, imagino.
Anderson pareceu divertir-se com a ideia.
- Ah, sim; é o que a maioria das pessoas imagina, não é? Que licantropos só se transformam em lobos na lua cheia; mas, na verdade, a maioria dos licantropos são transmorfos, e podem fazer isso a qualquer momento, por vontade própria. Esses que se transformam apenas em noites de lua cheia, são geralmente vítimas de maldições; um outro tipo de criatura, bem mais perigosa.
A funcionária pareceu surpreender-se com a revelação.
- Mas então, esse era o emprego perfeito para você - declarou.
- O problema é que, apesar de ser filho de licantropos... eu sou adotado - admitiu Anderson. - Não imaginei que omitir esse ponto pudesse fazer alguma diferença para o empregador.
A funcionária anotou algo na ficha de registro.
- Infelizmente, nesse caso sim. Essa parte de virar lobo... era importante para o trabalho.
E guardando a ficha na parte inferior de um organizador de acrílico, comentou:
- Seria melhor se você procurasse recolocação numa agência específica para humanos; creio que aqui não é o seu lugar.
Anderson suspirou.
- A concorrência não anda fácil. E morar num camping de trailers também não ajuda...
Agradeceu a atenção da funcionária e retirou-se da agência, a pasta de cartolina com currículos debaixo do braço. Do outro lado da rua, na esquina, avistou um Hexenringe Café, o semicírculo de letras góticas douradas enfeitando a vitrine. Decidiu animar-se com um bom café; ao menos, ainda tinha dinheiro para aquilo.
Não havia muitos frequentadores lá dentro; aproximou-se do balcão e fez o pedido à caixa, uma garota loura com uma plaqueta presa ao uniforme, onde lia-se "Owena".
- Vocês não estão precisando de ajudantes, estão? - Indagou esperançoso.
Owena olhou-o de cima a baixo, parecendo estar enxergando sob a pele dele.
- Você foi adotado por licantropos, não é?
- Isso é assim tão evidente? - Anderson riu.
- Não posso lhe dizer porque é evidente, mas sim, é - redarguiu ela. - Como se chama?
- Você pode me chamar de Miguel - replicou cautelosamente Anderson.
- Creio que temos um lugar para alguém com suas conexões, Miguel; mesmo que você não seja realmente um deles.
E apanhando um prato com pedacinhos de bolo confeitado de sob o balcão, estendeu-o para ele.
- Você aceita? - Indagou ela, num tom que não admitia réplica.
Anderson colocou a pasta de cartolina sobre o balcão, e apanhou o maior pedaço de bolo do prato.
- Com prazer - redarguiu, antes de levar a sobremesa à boca.
- [12-04-2021]