Shanina, a rosa assassina
Fria como o gelo. Destruidora como a tempestade. Certeira como a flecha lançada no alvo. Uma breve história de uma simples e bela camponesa de olhos azuis, cor de safira.
Prédios caindo, corpos dilacerados por todo lado. O barulho aterrorizante das bombas jogadas sobre nossas cabeças; assim eram os dias e as noites no início dos anos 40 em Stalingrado. Foi, especificamente, aqui nessa cidade Soviética que ocorreu a maior carnificina da segunda guerra, uma das maiores mortandades praticadas numa batalha entre seres humanos.
Em meio ao caos, emergiu a bravura de uma indomável guerreira. A morte rápida de centenas de alemães nazistas, era temida por todos os inimigos, e adorada por seu povo. Nós nos encorajamos ainda mais em derrotar o inimigo na linha de frente com o exemplo de bravura dessa valorosa combatente.
Pelo o que eu soube, ouvindo a conversa dos generais, ela perdeu um irmão nos campos de batalha e percebendo que o perigo estava cada vez mais perto, resolveu unir-se ao exército vermelho pra defender a sua família, a sua terra natal e vingar a morte do irmão.
Na linha de frente, destacou-se como a mais eficaz e destemida atiradora. Inabalável na missão que a movia, caçar e eliminar friamente, de modo implacável, a horda nazista. Ela cumpriu com louvor e sem remorsos o seu dever, segundo as suas próprias palavras em uma rara entrevista que concedeu ainda no front.
Uma de suas grandes habilidades, segundo diziam os camaradas, era que ela chegava a ficar por dias imóvel na mesma posição de combate, buscando pacientemente o melhor momento pra alcançar o coração e a mente (ou o cérebro) dos homens que encontrava. Quando eles surgiam em seu campo de visão, levava apenas alguns segundos até que caíssem subjugados; a bala saía do cano de seu rifle Kalashnikov, cortando o vento polar Russo, até que atingia em cheio o seu objetivo. Nenhum disparo era desperdiçado.
A fúria assassina com que essa cena se desenrolava, contrastava com a calma quase divina da executora; isso animava o moral das nossas tropas em campo de batalha, viravam histórias contadas por todo lado e que nos mantinham sempre dispostos; era um resumo fiel da vida e de sua criação, magnificamente observadas através da morte.
A beleza e a calmaria coexistindo simultaneamente com a fúria e a crueldade no mesmo espaço e tempo. Nada poderia ser mais esplêndido e fidedigno pra representação da vida humana.
Surgiu um suspiro distante. Mas segundos depois o suspiro já não existia mais. Roza Shanina, a rosa assassina, continuava contribuindo com o ciclo ininterrupto no qual a vida não existiria sem a morte.
Mais um sol nascia, mais um bom dia pra ela explodir corações e cabeças de algumas dezenas de homens. Contava eu alegre para os camaradas, antes de voltarmos novamente pras trincheiras; em volta de uma fogueira, bebendo umas garrafas de vodca, ao som da sinfonia diabólica ocasionada pelas explosões infernais levadas a cabo pela aviação e artilharia dos ataques inimigos, que não davam um segundo de trégua.
Roza e vodca eram dois grandes motivos para manter nossa determinação. Aposto que os soldados de Hittler, a essa altura, já estão começando a se arrepender seriamente de terem pisado em solo Soviético.
Roza já tomou pra sempre os nossos corações. Já os dos nazistas, ela literalmente dilacerou.