Reflexões de uma Nada sobre o Tudo

Por um lapso no Tudo... eu entrei...

Mas o que é o Tempo? Marca-se o Tempo? O Tempo sou eu...

Parei perante a dúvida; olhei no fundo do incompreensível. Me deixei ser o que precisava saber, o que era para a Verdade. No caminho, havia perguntas, sempre elas, motivo de quase tudo. É só observar. Sentir. E elas aparecem. É preciso querer ouvi-las. E eu preciso tentar. Tentar saber. Existe alguma ordem nisso? Ou a desordem é o que nos sustenta?

O olhar revela o que se conhece. Geralmente é o que pode ser visto. Sentido. Assim como negar que o vento está porque não o vemos. São as controvérsias do homem cego. Cego por saber tanto e não saber nada do que realmente importa. O que está acontecendo? O que acontece quando existo?

Parece sensato aprender. Aprender com quem sabe. Saber se quem sabe realmente sabe é difícil porque saber é relativo. É questão de alcance. Os exemplos que seguimos nos servem de referência para que tracemos uma rota, mas os caminhos se entrelaçam a todo tempo. Você acredita, depois não mais. Você pensa que seus pensamentos são seus, mas eles são o Mistério. Eles são a chave pra Verdade. O que sabemos, é o que somos. E a Verdade? O que é isso?

Adquirimos o que chamamos de conhecimento porque vivemos, nos relacionamos com o que chamamos de mundo, com o que pensamos ser mundo. Mundo? Mundos? Ser o que somos nos mostra que achamos uma ordem. Para entender o que parece ser o que também chamamos de vida. O tempo. Marcamos nossa vida com ele. Ele sou eu. Ele define há quanto existo. Mas e antes? Será que ele sabia que eu seria? Que existiria como agora sou?

Controle. É quando passamos a ser existentes para a consciência. Consciência. E o que se sabe dela, é que ela faz ser. Ser. É o que se espera que dure quando essa forma que controlamos e usamos se desfizer pelo tempo. E esperamos que as coisas sejam como foram. O eterno. Como pensamos que devem ser. Porque nos disseram que isso era felicidade...

... e pensam sempre que existe a perfeição.

Felicidade... Isso deve ser ótimo.

E pelo que viveram todos os que a viveram, ela é sentir-se completo. Não precisar de nada. Então, logo posso pressupor que esse talvez seja o maior desejo para nossa consciência depois daqui, de onde quer que possamos estar agora. A única maneira de ser feliz, se estar completo signifique realmente isso, é ser o que já não precisa de mais nada. Ser o que eliminaria qualquer possibilidade de insatisfação. Ser o Tudo...

Ser o Tudo... Parece filosofia para perdidos. Mas pode ser que haja um pouco do que se diz verdade nessas palavras tão desconexas. Só posso usá-las à medida que as conheço, as que não conheço deixam um pedaço vazio no que penso ser o mundo. Eu não consigo expressar o que realmente penso. Não sou tão bom nisso quanto necessito para que possa ser referência pra alguém, quem se arriscar a ler o que aqui está, talvez pense pelo menos que foi uma perda de tempo. Tempo, que eu acredito, seja eu ou você mesmo, somos o Tudo o tempo todo. Apenas não percebemos.

O Homem é triste por saber que disseram que haveria um fim. Certo. Mas, fim de quê? Ninguém quer morrer, porque a morte é uma perda. Perder não nos possibilita ser felizes de verdade. Não se pode ser completo tendo perdido algo que se acreditasse ter amado, pelo que achamos conhecer sobre ele; Amor; Vida. A Morte anula a chance de sermos felizes, de sermos completos. Porque aqueles que nos rodeiam são engrenagens que interagem com nossos caminhos, eles são parte do Tudo assim como sou, assim como o Tudo é... felicidade? Vida. Mas se somos o Tudo então não há Morte? Não há perda? É o que se espera sem se esperar. Sem saber. Vida.

O fim escreve uma parte da história. Até que a consciência seja Tudo...

Minhas palavras seguem o que ainda penso conhecer...

... mas não passo de um perdido.

Eu sempre me espelhei nos que foram. Aqueles que nos servem de referência. Mas eu sou o que pode se dizer um Nada, porque ser um Nada é diferente do nada de não existir. É como um peso pra se carregar por não poder fazer nada por Tudo... é um limite. Nada, mas não como o nada. Por acidente vi o Tudo... eu fui o Tudo... Agora sou apenas palavras desconexas, reflexões que queriam ser e eu resolvi que fossem. Talvez eu não seja o Tudo porque perdi... perdi a noção de ser. Eu fui...

O que fui?

Ainda agora não sei porque saber é relativo. Talvez meu alcance só me permita ver o que não me faz progredir. Como ser que existe, crescer o corpo da mente? Pensar que sei porque me disseram é o mais sensato. E eu sei que há o Tempo. Ele é ...

... o que não sei.

Ele sou eu. Não sei totalmente sobre mim. O Tempo é como eu vejo as coisas. É meu alcance. Quero sempre pensar em crescer, como se houvesse uma necessidade de se expandir, de ser maior, e é como se nunca fosse possível. É uma mudança que exige de mim algo que procuro alcançar. Se tenho objetivos? Vários. Quais alcançarei? Depende do Tempo. Depende de mim. Depende de todos. Do Tudo...

Por quê? Talvez nunca saiba. Se há liberdade, pareço acreditar porque não vejo as algemas. Por mais que elas lá estejam. Viver é encontrar a chave para essas algemas. Liberdade é saber sobre o que se é. É poder viver sem medo. É ser tudo pra não precisar sentir falta de nada. Nada? Nada que sou, ainda que tente fazer algo pelo Tudo. Ainda que me perca. Nada por Tudo.

Eu quis uma vida normal. O que é normal? Eu me tornei o que sou por minha experiência. Não sei quantas vezes cresci, pareço o mesmo há muito mas estou velho. Os velhos parecem que sabem mais. Eles estão em despedida e sabem o que lhes será suficiente. Eu vivi como o alcance que tinha me permitia. Do pouco tentei buscar o muito mas envelheci. Só então percebi e vi o Tudo... Eu entrei numa verdade que mesmo feita da mais pura fantasia, me mostrou algo. Eu percebi... O sentido que tantos outros buscaram e ampliaram era uma questão de visão. Eu perto do que disseram que era o fim percebi a razão que antes fora como o vento. Eu percebi que era...

... o que sou.

Você pode estar se perguntando por que continuar. Não, não há porquê. Eu só quero fazer minha parte, é o justo. Eu vi o Tudo, fui parte dele por não sei quanto. Não poderei expressar o que quero mas tentar não me foi proibido. Por isso, talvez você continue. Pra saber que tentei.

Não por acaso me pergunto sobre o que vivi. Tantas foram as inseguranças impostas pela Consciência. Foi como crescer num labirinto e nunca chegar a se encontrar. Não era uma saída o que procurava. No que conheci por Vida, eu sempre quis uma resposta, como se saber evitasse o inextricável Nada que é o Tudo. Se meus olhos fossem voltados para dentro, talvez tivesse perdido menos de mim, menos Tempo. Vi nos outros sempre um pouco de mim, maquiei defeitos por virtudes insalubres, corrompi a normalidade com o néctar da dúvida. Eis o questionamento que algema. É inevitável se desvencilhar da ordem. Estar fora da ordem me pôs sobre a cama de espinhos. Nela descansei o que fui.

Mas sobrevivi ao teste máximo. O de durar. Durei o suficiente pra ainda ter tempo de descobrir um porquê. O verdadeiro sentido pra o tempo que fui eu. Antes de ver o Tudo e entender sem nenhuma doce dúvida que onde eu nada via... havia a mim. Eu estava lá o tempo todo. Eu sei que não sei explicar mas lembra que estou me esforçando. Não custa tentar te fazer entender o que não entendo...

... quer tentar entender?

Então vou tentar explicar.

Eu possuí olhos. Olhos de homem. Eles eram negros, profundos, enxergavam o quanto lhe cabiam. Eles não viam o que precisavam. Até que uma porta se abriu... e eu entrei... agora não consigo lembrar como, tudo sumiu. Eu vi algo que por ser inexplicável não pode aqui estar escrito. É apenas o que lembro. Eu quero te contar. Quero que saiba; “No Nada Tudo Vive”. Entendeu? Quem sou eu? O Nada. Ou o Tudo. Esqueça seus olhos de homem, enxergue além. Pense. Sinta. O caminho não podia ser visto com meus antigos olhos. Era preciso sofrer uma perda que seria como se encontrar. E é só isso que lembro.

Agora sendo o que sei que sou não posso te contar a verdade. Cedo ou tarde cada um dos que foram assim como fui saberão de acordo com suas visões. Eles voltarão ao Tudo, sendo o Nada... É difícil, porque queria poder reencontrar alguém... Um sentimento me lembra que preciso reencontrar alguém dentro de mim. Alguém que precisa ser recriado. Porque agora sei uma verdade. E ela foi como abrir as algemas que antes não via. Eu fui livre porque por Amor, alguém havia me dado uma chave um dia. Foi por ela que descobri quem sou. E também quem fui. Alguém por quem sinto Amor. Amor...

Ela também sou eu. Somos todos. E agora como encontrá-la? Se meus olhos de homem já não existem?

Não consigo te explicar o que penso. É questão de deixar que acredite caso queira. É preciso querer se perder um pouco pra despertar. O calor que aquece alguns também queima outros. Não tenha medo de não querer entender. Talvez esses sejam os momentos em que por momentos raros somos o Tudo. Até ser não mais que Nada. Pois algo será sempre eterno. O que pode mudar o Tudo. Ele a quem entreguei um medo; Amor. Entrega sem retorno... Meu sacrifício de tentar viver o maior de todos os ensinamentos. Viver pelo outro não me foi possível com olhos de homem. Reconheço que não fui dos melhores. Sempre uma busca e tantas perdas, ah... se soubesse por que tanto errei...

... talvez fosse medo.

O Medo é o senhor dos homens.

É por medo que tanto se chora desde sempre. Sofrer é inerente ao ato de existir porque é o que nos faz de alguma forma estender nosso alcance. Porque quando fui o que me chamavam e eu cresci sendo, meu maior medo era saber um segredo. Segredos são coisas muito difíceis pra se ter consigo. Eles são na verdade guardados para que se queira encontra-los. Mas o medo, tal força impõe o maior de todos os medos... dor.

Dor... Era isso que reinava quando fui. O Todo também se corrompe. A inversão da ordem fazia sua parte na ordem...

... e eu temi.

Eu via que não fazia sentido tanta falta de sentido. O Mundo que julgava ser o certo desmoronava à medida que meus passos tímidos eram dados rumo a algo antes inacessível. Eu estava arriscando uma vida pra que pudesse viver. Tinha medo. Era um medo antigo. Era um medo de perder. Perder é a maior de todas as perdas. Não podemos perder caso não possamos procurar. E o medo me fez perder a confiança no que fora. Outros, até mesmo quem sentia Amor, pareciam duvidar de que eu estivesse certo. Eu poderia ser o que se acredita ser um cego. Eu acreditava que via. Meus olhos eram olhos de homem. O que vi não podia ser visto com tais olhos. Eu vi e me perdi até que volte a me encontrar. Eu certamente ainda não encontrei porque nunca estive à procura. Verdade... Medo da Verdade. Saberei eu perder?

Meus medos são. Eles são meus. É deles que refaço o caminho através do que conheço. Eu, que Nada sou e sei. Eu, que não passo ao Tudo porque não tenho alcance suficiente. Eu, que por medo entrei sem saber na Verdade e me perdi. Perdi para ter...

... Vida?

Talvez eu não conhecesse o que é a Vida... Eu sabia que vivia mas a Vida eu ainda não conheço, mas a conheci por alguns míseros instantes indefiníveis, eu a toquei com as pontas dos dedos... Mal a senti e já penso que a conheci...

Sei que não entendo. Como farei para te explicar? Explico-me pedindo a ti que se explique.

Bem, penso agora em parar. Já não delimito o que é acreditar do que é ser porque me perdi a tanto tempo que já devo ter me encontrado sem saber. Estou a ponto de esquecer esse esforço a troco do que não sei. Eu só estou tentando... Tentando porque sempre fui isso que fiz. Tentei não tentar mas tentar é o meu comum. Tentar me faz ser o que é mutável, me faz ser como o Todo. Tudo muda... Assim como o Nada é sempre o que foi e será, Tudo depende de como vejo o Todo que acredito ser o mesmo que sou. Meus antigos olhos deram lugar a olhos diferentes, olhos que enxergam o indizível... Eu sei que devo saber algo mas enquanto não puder te fazer entender, parecerá que nada aconteceu...

Nada acontece a todo tempo... Tudo e Nada continuam a ser eternos, como o que se acredita ter sido o que foi. Já não sei se quero continuar a tentar. Talvez se parar me fizer chegar a algo que procuro e almejo, devo te deixar com as sementes que colhi. Muitas vezes o que não faz sentido é o próprio sentido. É só deixar que as sementes cresçam... Não sei se algo de mim ficará em ti mas lembra que essas sementes são como as crianças do Homem. Elas são eternas porque não sabem... e quando se dão conta, algo nelas se acaba... E o que um dia foi eterno se torna findável, e o começo por um encontro se torna o restante do caminho...

... e esse caminho agora é seu.

Meu caminho é continuar... sem saber, sabendo, sendo... O que posso querer é o que sinto que me falta, como um dia faltou aos que me espelho. Mas sei que posso refazer meus caminhos pra que veja o que antes não vi, pra que encare as coisas vendo-as por dentro. Nada por Tudo... Tudo por Nada... Sou o que preciso pra que venha a ser como o caminho que agora tomo...

... e me sacio com o que encontro;

Encontro a mim...

...

Edgar Lins
Enviado por Edgar Lins em 01/04/2021
Reeditado em 11/04/2021
Código do texto: T7220928
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