O lobo no redil
- Tecnicamente, não é uma falha - comentou o inspetor-chefe Treadaway em conversa com Reuben Gilbert em sua sala. - A Imigração está preparada para detectar a presença de mortos-vivos, desde que não sejam sencientes; um zumbi faria soar o alarme, mesmo que estivesse trancado dentro de uma caixa, mas não um lich. Imagino que você deve saber o porquê dessa distinção...
O sargento balançou a cabeça, lentamente.
- A Lei da Igualdade de 1972, claro; seria uma discriminação contra os mortos-vivos sencientes...
- Precisamente - assentiu Treadaway. - Afinal, se temos sanguessugas na corporação...
- Vampiros - corrigiu Gilbert afavelmente.
- Que seja; - prosseguiu o inspetor-chefe - felizmente, não aqui na ilha. Mas a sua pista sobre a origem do lich poderá ser levada em conta, desde que tenha como fundamentá-la. Não será uma tarefa fácil.
- Sim, estou ciente, inspetor - aquiesceu Gilbert. - Por isso estou trabalhando em duas frentes: os registros da Imigração e o feitiço explosivo empregado no corpo de Orchid Jellis.
- Não temos peritos suficientemente especializados para lidar com esse tipo de ocorrência - admitiu Treadaway. - Talvez seja necessário pedir colaboração à polícia inglesa.
Gilbert apoiou as mãos nos braços da cadeira, antes de informar:
- Falar nisso, anteontem estive reunido com a sargento Freemantle.
- Margie? - Treadaway ergueu os sobrolhos. - Não a vi mais desde que entrou para a Narcóticos.
- Fomos naquela cafeteria nova, a Hexenringe - explicou Gilbert.
- Espero que não tenha aceito nenhuma amostra grátis - Treadaway abriu um sorriso irônico.
- Eu fui avisado - informou Gilbert.
* * *
- Reuben?
Gilbert estava em casa, preparando o almoço, quando parou para atender o celular. Era Margaret Freemantle.
- Oi Margie. Novidades?
- Conversei com um colega da Imigração, e ele me disse algo interessante: o nosso assassino ainda pode estar na ilha, provavelmente hospedado num dos nossos hotéis.
- Por que ele acha que o lich não fugiria de imediato, após executar a vítima?
- Para não despertar suspeitas; provavelmente, viria para cá como turista e ficaria por alguns dias, até a poeira baixar. Uma estadia muito curta provavelmente chamaria a atenção da polícia.
- Bem... certo. Mas ainda assim, seriam dezenas de suspeitos para investigar, e a movimentação poderia fazer com que o suspeito se alarmasse e fugisse; simplesmente não temos pessoal suficiente na ilha para esse tipo de trabalho, como sabe.
- Você precisa de ajuda externa - disse Margaret.
- Engraçado... Treadaway falou a mesma coisa - confessou Gilbert.
- Um pouco de bom senso, enfim - replicou ela. - E creio que tenho o nome certo para essa missão, alguém discreto e confiável: Evrawg Corfield.
Gilbert ergueu os sobrolhos.
- Ele é da polícia da ilha? Não conheço.
- Não, é da polícia de Gales - informou Margaret. - E é um licantropo.
[Continua]
- [30-03-2021]