Erro de identidade

- Joan!

Jean levantou as vistas do celular e encarou o barista, atrás do balcão da cafeteria. Ele estava olhando diretamente para ela.

- Joan! - Repetiu ele com um toque de urgência, erguendo o copo de papelão que deveria conter o espresso macchiato que ela pedira há dez minutos.

Jean ergueu-se, mordendo o lábio inferior. Terceira vez naquela cafeteria e terceira vez que o mesmo barista pronunciava errado o nome dela. O sujeito ia ouvir algumas verdades, aquilo só podia ser de propósito para irritá-la.

- Ei, escute... - começou ela a dizer, mas o sujeito levou o dedo aos lábios.

- Eu sei o seu nome correto - sussurrou ele, em seguida. - Mas se eu o pronunciar em voz alta, o sujeito que está sentado naquela mesa junto à porta, vai ouvir.

Jean olhou de soslaio para a mesa indicada. Havia ali um tipo com um jornal nas mãos: careca, porte atlético, terno escuro, gravata de seda azul. Quem ainda lia jornais impressos hoje em dia, perguntou-se.

- E o que acontece se ele ouvir? - Murmurou Jean, pegando o copo de papelão.

- Ele mata você - afirmou o barista, muito sério.

Jean engoliu em seco.

- Como você sabe disso... Jack? - Questionou ela, lendo o nome impresso no botton de identificação que ele trazia preso ao avental verde do uniforme.

- Ser barista significa mais do que preparar cafés de alta qualidade - afirmou o rapaz. - E agora, é melhor você se sentar antes que o meu gerente pense que estamos namorando...

Jean corou. E fez o que lhe havia sido recomendado, sem questionar.

Ao sair da cafeteria, passou pela mesa onde o careca havia deixado o jornal de lado. Ele a encarou com ar analítico.

- Seu nome é Jean? - Indagou ele, de forma casual.

- Joan - replicou ela, muito séria. - Meu nome é Joan.

E saiu depressa, antes que o homem lhe pedisse algum documento de identificação.

- [09-03-2021]