O Homem Voador

Na região central da cidade de São Paulo, César andava apressado rumo ao trabalho, um hábito muitas vezes repetido, mas, nesse dia aparentemente igual aos outros, um acontecimento incomum modificou bruscamente sua percepção do mundo.

César se lembra de ter visto o vendedor de cachorro-quente apontar para o céu, foi quando ele viu o que, a princípio, era digno de admiração. Um homem voava no horizonte... Paraquedas, asa-delta? Ele só havia visto isso na televisão. No entanto, não havia nenhum equipamento... Como?... O homem voava como se fosse o Superman... Girava velozmente sobre si mesmo e dava voltas por um mesmo lugar como um avião de acrobacia.

Logo, os transeuntes se aglomeravam para entender o que estava acontecendo. Crianças se animavam, imaginando que se tratava de um dos seus super-heróis favoritos. Adultos se dividiam entre a admiração e o ceticismo.

— É um alienígena! — afirmava um morador de rua.

— Está amarrado em nome do Senhor! — dizia uma senhora idosa.

— Deve ser algum truque da Força Aérea. — falou um policial.

É um ser humano, pensava César consigo mesmo.

A apresentação misteriosa durou cerca de quinze minutos. O homem misterioso, como que para finalizar o espetáculo, voou para o espaço a uma velocidade incalculável.

Rápido a aglomeração se dispersou e César seguiu para o trabalho. Ele era operador de máquinas em uma fábrica de sapatos, e, quando foi questionado pelo patrão sobre o motivo de ter chegado atrasado, respondeu:

— É que eu vi o Super-homem voando no céu... Tive que parar e olhar.

— Mas que desculpa esfarrapada! — respondeu o sujeito iracundo — Além de tudo é mentiroso. Comece já a trabalhar!

No entanto, logo as notícias sobre o homem voador se espalharam, e as poucas imagens feitas com o celular pelos transeuntes que presenciaram o fato ganharam as manchetes de jornais nacionais e internacionais.

Passaram-se semanas, e o assunto ainda era um dos mais debatidos entre as pessoas e na mídia. Discutia-se a veracidade das filmagens feitas com os smartphones: "Hoje em dia, pode-se manipular qualquer imagem pelo celular, criam-se montagens perfeitas." — diziam os especialistas.

Dois anos passados do ocorrido e pouca gente ainda acredita que aquilo de fato aconteceu. César agora assisti na TV o depoimento de um cientista cético, o qual considera que ocorreu uma espécie de alucinação coletiva, entre aqueles que supostamente haviam visto o homem voador. Tal alucinação havia sido habilmente aproveitada pelos espertinhos em tecnologia, que teriam ganhado muito dinheiro com suas montagens.

— Eu sei que era real, não foi só eu que vi, Maria! — afirma César, dirigindo-se a sua esposa.

— Impossível!!! — redarguiu Maria.

Então, como em quase todas as manhãs, César se dirigiu para o centro da cidade. O homem voador nunca mais apareceu desde aquele dia.

Andando apressado por entre uma grande quantidade de pessoas, ele vê um sujeito apontando para o céu, é o vendedor de cachorro-quente. Curioso, César olha para o infinito... Há um bando de pássaros fazendo acrobacias.

— Bem, deve ter sido apenas isso. — falou consigo mesmo, e seguiu para o trabalho.