Aviso de falecimento
- Você viria ao meu funeral? - Indagou Marcos pela videochamada temporal.
- Já está avisando com antecedência? - Questionei, sem saber se a pergunta era séria.
- Na verdade, o sepultamento só está acontecendo 250 anos no futuro, que é quando os destroços da minha espaçonave de reconhecimento foram descobertos, nas montanhas de Tathula-IV. Mas parece ser uma boa oportunidade para nos reencontrarmos, não acha?
- Vou marcar na agenda - prometi. - Mas como foi morrer num lugar tão longe?
- Francamente, não fui atrás dos detalhes; se eu souber o "como", posso querer desistir e isso mudaria a História. Melhor deixar como está.
- E essa curiosidade mórbida de comparecer ao seu próprio funeral, de onde surgiu?
- Vão fazer uma cerimônia pública - declarou com orgulho. - Parece que há um monumento em minha memória, seja lá por qual motivo for; acho que será legal dar uma olhada e tirar umas fotos.
- Só cuide de não estar com essas fotos no dia em que perder o controle e se esborrachar em Tathula-IV - recomendei. - Você quer que leve flores?
- Não sei se levar flores para funerais ainda está na moda daqui a um quarto de milênio, mas vou pesquisar, e já lhe digo...
O rosto de Marcos desapareceu da tela do monitor por alguns instantes. Quando voltou, estava sorrindo:
- Não me pergunte a razão, mas o hábito agora é colocar embalagens de comida e garrafas vazias sobre os túmulos.
- ...e depois a manutenção do cemitério retira o lixo. Faz um certo sentido - ponderei. - Está bem, vou guardar algumas caixas vazias de pizza e latas de cerveja, para dar um toque de autenticidade. Imagino que as do futuro serão impressas em 3D...
- Não poderia esperar menos de você - agradeceu Marcos. - Vou lhe mandar as coordenadas temporais depois que desligar.
Na verdade, como descobrimos no dia da cerimônia, em cerimônias festivas as pessoas levavam comida para o cemitério e deixavam as embalagens por lá mesmo. A ideia não era exatamente enfeitar as sepulturas com as embalagens, como havíamos imaginado.
- [15-02-2021]