Dourado
Dourado tinha tudo para ser feliz.
Apesar de o terem por "olho grande" e "sabichão", tinha tudo par ser igualmente aos outros. Pois nada tinha demais senão o peculiar, o que lhe fora atribuído desde a criação.
Se Dourado tivesse nascido com três olhos, ainda bem. Ou, pelo menos com duas bocas. Aí sim.
Acontece que, indiferente à situação de outrem, Dourado de tudo queria açambarcar o melhor pedaço. O melhor teto o tomou para si. No verão fazia questão para ser dono das águas frias. No inverno, era o domínio pelas águas quentes.
Enfim, Dourado tinha, em conquistas, tudo quanto seu coração podia desejar.
Certo dia apresentou-se diante de Dourado um apetitoso naco de alimento. Ele contumaz, glutão, não pensou duas vezes, mas o ingeriu de uma só vez. Sentiu uma horrível fisgada nas entranhas e algo que o puxava violentamente. Desesperadamente tentou se livrar daquela situação horrível, sem lograr êxito. Lutou, debateu-se, pediu ajuda... Debalde. Nada mais se podia fazer.
Dourado foi fisgado. Sucumbiu. Morreu pelos olhos e pela boca.
Saiu do conforto das suas águas para ser dourado na brasa.
Faltou-lhe sabedoria e humildade.