alimentação capitalista
Às 16 horas Neci saiu do trabalho, Às 16:25 ela caminha até sua casa. Morar perto sempre foi uma realidade em sua vida, sorte dela que não gosta de multidão nem filas grandes, piorou transporte público suado e mau cheiroso, Neci que fala com todo tipo de gente mas não conhece nenhuma.
No hábito de convencer pessoas a comprarem aquilo que não precisam, se convenceu a ser uma consumidora desse mesmo tipo.
Às 16:35 ela passa em frente ao mais recente comércio do Vale do Limão, o único não pisado por seus pés e pelo único motivo de que o local fecha no exato momento em que Neci bate ponto. Só que nesse instante às 16:36 há um fio de abertura onde se pode ver a bota pela vitrine: couro ao longo da perna chegando no joelho, três fivelas douradas e um salto mínimo "como eu gosto" pensa Neci.
Com os olhos brilhantes ela corre, a proprietária tenta fechar, Neci tenta entrar, chuta a mulher, puxa a bota e se senta numa poltrona.
Com os olhos assustados a mulher mancando também entra.
"Aceita vale-alimentação?" diz Neci.