A casa da boneca
Emelia levou um choque ao entrar em casa e ver a boneca de cabeça de porcelana, vestido antigo, colocada cuidadosamente no centro do sofá da sala.
- Onde vocês acharam isso? - Indagou às sobrinhas, Ayleen, 10 anos, e Alisha, de 9 anos, que brincavam no tapete.
- No sótão, tia - informou Ayleen.
- Foi uma verdadeira aventura - acrescentou Alisha, orgulhosa.
- Eu já não disse para não subirem lá quando eu não estiver em casa? - Questionou enfaticamente. - O sótão é perigoso, tem muita coisa velha e solta, vocês poderiam ter se machucado! Imagine se isso acontece, o que a mãe de vocês ia dizer?
- Mas nós tomamos cuidado, tia - afirmou Ayleen. - Só demos uma olhada por cima nas caixas, e não chegamos nem perto de nada que pudesse cair ou quebrar.
- Está bem - atalhou Emelia, para cortar a explicação. - E onde vocês acharam essa boneca?
- Estava em cima de uma mala velha - disse Alisha. - E não estava nem um pouquinho empoeirada.
Emelia inclinou-se sobre a boneca, pegou-a entre as mãos, e a ergueu à altura dos olhos.
- Como então, você deu um jeito de voltar, não é, Rebecca? - Sussurrou entredentes.
A boneca pareceu encará-la com seus grandes olhos azuis de porcelana, mas nada respondeu, obviamente.
- Essa boneca era sua, tia? - Indagou Ayleen.
- Não - replicou Emelia, recolocando a boneca sobre o sofá. - Foi da minha avó, quando tinha a idade de vocês, e depois que ela morreu, ficou muito tempo jogada no sótão. Eu a encontrei, anos atrás, e a vendi num leilão pela internet.
- A pessoa que comprou a devolveu? - Indagou Ayleen, curiosa.
Emelia resolveu sentar-se ao lado da boneca.
- Não - suspirou. - Um belo dia, eu fui ao sótão colocar algumas caixas e a vi... sentada numa mala velha. Exatamente como vocês a encontraram.
As meninas entreolharam-se, assustadas.
- Mas... como ela voltou sozinha, tia? - Questionou Alisha.
- Quem vai saber? - Emelia abriu as mãos em desalento. - Parece que Rebecca gosta muito daqui e se recusa a ir embora; ou talvez estivesse esperando duas novas companheiras de brincadeira.
- Então, não podemos levá-la conosco? - Indagou Alisha.
- Acho que podem fazer a experiência... - sugeriu Emelia. - Se ela não desaparecer de um dia para o outro, creio que podem ficar com ela.
E acariciando os cabelos de lã amarela da boneca:
- Ao menos, até que chegue o dia dela voltar novamente para casa...
- [04-12-2020]