CONFIANÇA

Estávamos numa especie de feira, no final da Praça das Andorinhas, onde estavam sendo vendidas varias coisinhas, como se estivéssemos nos preparando para alguma catástrofe.

Fui até a barraca de molhos, perfumes e iguarias, onde estava o meu amigo. Antes que eu pudesse falar ele disse em tom de brincadeira.

______Ei, você me esqueceu né? Fala com todo mundo, até com o pão, mas não fala comigo, tá certo… povo que não me ama, não gosta de mim!

Sorri e me aproximei dele.

______Eita, eu falo, você que não responde… mas eu, com a minha cara lisa, continuo falando. O abracei – e o que você esta fazendo aqui? Devia estar descansando homem.

______ É, agora que acabou a feirinha eu vou, mas antes me pegue umas ervas para colocar aqui.

Só então percebi que ele estava sentado e com uma das pernas sobre outra cadeira. Vi, na perna direita, na canela, uma ferida muito estranha, parecendo cada vez maior, se abrindo apesar de estar seca. Fiquei assustada e perguntei o que foi aquilo. Ele me respondeu fingindo serenidade.

______Ahhh, isso já tem umas semanas…

Não me convenceu da desimportância. Aquela ferida era, no mínimo, estranha.

______ Tem que colocar barbatimão e mastruz macerado nisso homem, senão não fecha.

Ele ensaiou um sorriso e falou em tom de brincadeira, porém algo soava estranho, o olhar dele era triste como se tentasse esconder alguma coisa. Uma tristeza, disfarçada de bom humor, vibrava em suas palavras.

______Apôis vá buscar pra mim, traga pra colocar, porque aqui ninguém liga pra mim não.

Enquanto fui me afastando para buscar as ervas ele falou, olhando sério, para mim.

______Eu já tive um infarte, não posso fazer várias coisas, mas quem vai cuidar de mim? Não confio em muitas pessoas, vocês precisam vir para perto de mim, em vocês eu confio e vocês poderiam cuidar de mim, moraríamos ou perto ou na mesma casa.

Fiquei chocada com tudo que ele disse e toda a situação, só balançava a cabeça em sinal positivo e dizia para não se preocupar que ele ficaria bem, que iriamos cuidar dele.

Pegava as ervas, macerava e ia levar com um kit de primeiros socorros, ele se sentava comendo, enquanto eu cuidava da ferida espalhando as ervas e colocando gaze na perna.

Retornei.

GK Bagoé
Enviado por GK Bagoé em 14/10/2020
Código do texto: T7087267
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