AQUELE OLHAR (Versão Conto)
Era uma tarde linda de verão, eu me sentia radiante e feliz, nada poderia ser melhor do que aqueles momentos ali na varanda da casa recém comprada depois de quase quarenta anos de labuta, a indenização com a aposentadoria serviu para esse e outros objetivos. Ao meu lado minha digníssima esposa e companheira inseparável, um amor de pessoa. Em dado momento senti que a vista escurecia e uma pequena dor no peito me afligia. Numa fração de segundos meu corpo tombou e nada mais vi. Depois de algum tempo que não sei precisar olhei para a esposa e vi lágrimas que transbordavam dos seus olhos, aquele olhar triste me causou uma imensa emoção, eu senti que era pura sinceridade dela, tinha absoluta certeza. Aquela imagem então me comoveu profundamente e eu imaginava estar delirando. Mas aos poucos fui compreendendo que estava me afastando de quem eu mais amava e nada podia fazer, minha mente estava completamente confusa.
Aquela imagem da minha esposa, com pouca nitidez, tornou-se estática e transportou-se pelo tempo numa velocidade impressionante, eu estava viajando pelas galáxias tendo diante dos meus olhos aquela sua imagem parada, a sua tristeza permanecia, mas em determinado momento eu a vi sorrir e nesse sorriso pressenti que existia muita gratidão por mim, ela sofria e nada podia conter esse sentimento. A sua tristeza havia sumido e um semblante de alegria invadiu sua face me deixando muito feliz. Contemplei aquele olhar doce e sereno, fiquei admirando aquela imagem sorridente não sei por quanto tempo, mas o suficiente para saber que ela estava bem apesar de ter sentido muito a minha falta. Tinha plena certeza que ela daria tudo para estar comigo, para continuarmos vivendo a tão sonhada felicidade naquela casa dos nossos sonhos. Planejamos tudo e quando tudo efetivamente se concretizou veio a triste surpresa, eu não estava mais ao seu dispor para usufruirmos do que plantamos, a colheita não foi o que esperávamos, fiquei triste, afinal eu havia morrido.