UM "ARMÁRIO" QUE QUEBROU OUTRO.

DESACONSELHADO PARA MENORES DE DEZOITO ANOS.

Negão é um representante comercial, amigo nosso de muitos anos e de futebol. A maneira como o chamamos não é pejorativa, mas carinhosa. Um sujeito extremamente simpático, prestativo e um dos mais queridos da turma do futebol. O negro é um armário, mede aproximadamente dois metros e pesa de cento e vinte quilos para cima. Representante comercial, vive pelo mundo afora e é cheio de histórias para contar.

Em uma de suas viagens passou mais de vinte dias fora de casa. Na viagem permaneceu virgem durante todo o período. Não comeu ninguém, ficou o tempo todo na mão, ou seja, na velha punheta. Estava já desesperado de tanto tocar punheta. Não descolou nem puta.

Certa noite, já quase no fim da viagem, jantava no restaurante do hotel quando chegou um casal de francês, que ficou por ali namorando e o Negão só observando. Depois do jantar, já enfadado e sofrendo por está desesperando por uma mulher e ainda por cima vendo aquele namoro, resolveu ir para seu apartamento e fazer os relatórios da viagem. Que era a melhor maneira de esquecer seus problemas sexuais.

Lá pelas tantas, muito entretido, ou como se diz no Ceará “intertido”, escrevendo os relatórios, começou a ouvir uns gemidos. Parou de escrever um pouco para se concentrar nos gemidos. Depois de algum tempo notou que eram gemidos de prazer, como se alguém estivesse dando uma trepando muito gostosa. Definitivamente, parou os relatórios para poder melhor ouvir e distinguir os gemidos, assim como localizar de onde vinham. Finalmente se deu conta que vinham do apartamento vizinho. Como falavam em francês, deduziu tratar-se do casal que estava jantando ao lado dele no restaurante.

A perigo, por não trepar há tanto tempo, o Negão começou a se empolgar e ficar de pau duro. Sentiu uma enorme vontade de dar uma ou mesmo tocar uma punheta, observando a cena. E começou a imaginar uma maneira de assistir àquilo. Procurou tanto que descobriu como fazer.

Os hotéis da região Norte, quase todos, mantêm uma porta interna de comunicação entre os apartamentos. Não sei para que serve. Suponho que em épocas passadas, visto que tal acesso só existe em hotéis antigos, os donos de hotéis, que atendiam à alta sociedade para livrar tanto os homens de poder como as mulheres de olharem indiscretos, bolaram a comunicação para que o casal se hospedasse em apartamentos separados e depois, tranqüilamente, pudesse passar de um para outro.

Para haver privacidade nestes hotéis, é necessário se ter o cuidado e sempre verificar se a porta interna está fechada do nosso lado, ou seja, existem fechaduras de um lado e do outro da porta, quando um lado fecha o outro não pode abrir e vice-versa.

Pois bem, o cara viu a porta de comunicação interna e nela havia uma brecha relativamente grande que poderia dar para olhar o que ocorria dentro do apartamento vizinho.O problema é que a tal brecha ficava no alto da porta. Mas dada sua altura, tentou, de ponta de pé enxergar dentro do apartamento vizinho. Nada. Procurou outra solução. E aí notou que se subisse no armário que havia em seu apartamento, poderia de lá observar dentro do apartamento dos franceses. Buscou uma maneira de subir, até conseguir, isto é, subiu na cama e da cama no armário. De lá ficou observando a cena e pôde tocar uma boa punheta, à vontade.

Quando os franceses terminaram de foder, ele também concretizou seu ato. Satisfeito, descansou um pouco para poder descer do armário. Ao resolver sair dali, se mexeu, o armário começou a balançar. Ele parava de se mexer e o armário também. Qualquer movimento que o Negão fazia, parecia que o armário ia se desmanchar todo. Tenta novamente, e outra vez o móvel volta a balançar perigosamente.

Negão ficou apavorado sem saber como sair daquela situação. A cada tentativa era um deus nos acuda: o armário parecia que ia despencar de vez. Ali em cima ficou bastante tempo, pensando numa maneira de sair. Não vendo como, resolveu apelar.

De cima do armário resolveu saltar em cima da cama. Um risco grande pelo tamanho e peso do Negão. Mas era o jeito. Por alguns minutos fez uma reflexão dos prós e dos contras, mas não vendo outra solução, era pular ou cair lá de cima no chão. Aí, põe em prática o plano. Encostou os dois pés na parede do apartamento, pegou impulso e com toda força jogou seu corpanzil de cima do armário para cima da cama. O baque foi grande, quando bateu em cima da cama. De quebra o armário, no impulso, veio também e se espatifou em cima das costas do Negão.

Despedaçaram-se os dois: cama e armário. O estrondo foi tão grande que acordou em peso os hóspedes do hotel, que imediatamente, correram de seus apartamentos com medo de um desabamento.

Passado algum tempo do desabamento, pois na realidade fora um desabamento, bateram à bota do apartamento do Negão, que ainda meio atordoado, consegue se levantar do meio dos destroços: pedaços de cama por baixo e de armário por cima, e foi atender. Era o gerente do hotel, que dois andares abaixo, ouvira o estrondo, e correndo subiu rápido os andares para saber o que acontecera, esperando um verdadeira catástrofe, tamanho fora o barulho.

Ao chegar no andar do Negão, o gerente identificou onde houvera a catástrofe, porque todos os hóspedes estavam à porta de seus respectivos apartamentos, olhando desconfiados para o apartamento do Negão, que ao abrir a porta, dá de cara com o gerente, que o olha interrogativamente, mas como estava praticamente dentro do apartamento, deu para ver o ocorrido e pede explicações do Negão, que conta haver o armário, sem um motivo aparente, caído sobre ele e no impacto também quebrara a cama.

O gerente achou tudo muito estranho e pede para entrar no apartamento para poder examinar melhor o acontecido. Depois de uma olhada geral, entendeu que o armário pudesse ter despencado sobre o Negão realmente, entretanto o impacto não seria suficiente para quebrá-lo e muito menos fazer todo aquele estrago na cama.

Então, olhou para o Negão e disse:

- Acho que o armário caiu, porém não acredito que tenha feito todo esse estrago. Portanto, não vou cobrar o preço do armário, mas o senhor terá que arcar com o pagamento do custo da cama.

O Negão aceitou sem contestação. Despediu-se do gerente e o levou até a porta. Ao olhar para o lado do apartamento dos franceses os vê na porta, que a tudo observava e faz um cara de desconfiança na direção do Negão, como se tivesse dizendo:

- Eu sei o que o senhor estava fazendo.

Desconfiado, o Negão fecha a porta e vai dormir.

Acho que foi a primeira vez na história da humanidade que alguém pagou para tocar punheta em si mesmo.

HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO

OUTUBRO/2007