Eles vivem
Ao parar para recuperar o fôlego, ela olhou para trás e viu que já não estava mais sendo seguida. Os dois homens de terno preto que estavam no seu encalço desde que descera do ônibus em frente ao hospital municipal, pareciam ter desaparecido em meio à multidão.
Para assegurar-se de que os despistara, entrou num supermercado, bastante cheio àquela hora da noite, e começou a circular entre os corredores de prateleiras, uma cesta no braço, fingindo procurar alguma coisa. Acabou comprando um pacote de biscoitos e uma lata de refrigerante para justificar o tempo que passara lá dentro.
De volta à rua, especulou se voltar para casa era seguro. Talvez os homens de preto soubessem onde ela morava e estivessem apenas aguardando que dobrasse a esquina para jogá-la numa van de placas frias e vidros fumê. Decidiu então ligar para Lina; ela poderia ajudar.
- Áurea? Onde você está? - Indagou Lina preocupada, ao atender a ligação feita de um telefone público.
- No centro da cidade. Desci no hospital, mas dois homens vestidos de preto começaram a me seguir. Eu fugi.
- Áurea, me escute - disse Lina pacientemente. - O Dr. Amílcar estava esperando você no hospital, lembra? Você ficou de se apresentar hoje para internação.
- Sim, é o que eu ia fazer, mas havia dois homens me seguindo. Eles podem ser sequestradores - replicou com veemência.
- Áurea, você tomou sua medicação hoje? - Indagou Lina.
- Eu não imaginei os homens - afirmou Áurea.
Lina suspirou.
- Áurea, você tem dinheiro para pegar um táxi?
- Sim.
- Então, por favor, pegue um e vá para o hospital. Os homens de preto não poderão adivinhar que estará nele.
Áurea ficou surpresa com a simplicidade da ideia. Por que não pensara naquilo antes?
- Está bem. Farei isso.
Desligou o telefone e fez sinal para um táxi que passava. O veículo parou a poucos metros de distância e teve que dar uma curta carreira para chegar até ele.
Sem poder distinguir o interior do táxi por conta dos vidros escuros, somente ao abrir a porta traseira é que viu os dois homens de terno preto esperando por ela.
- Pensou que tinha se livrado de nós? - Indagou o que lhe estava mais próximo, um sorriso branco sob os óculos escuros.
- [31-08-2020]