Do sonho à realidade...
A cada corrida pela fecundação que perdia, o espermatozóide ia sentindo o avanço atroz de seu envelhecimento e, o que era pior, a humilhação de jamais poder gozar do sublime conúbio com um óvulo, o sonho de todo espermatozóide desde o nascer...
Já sem chances de competir e praticamente relegado oblívio, pôs-se a pensar...pensar, pensar, até que lhe veio o estalo, promissor, feito o estalo que convertera o jesuíta Vieira ao pregador renomado e implacável que foi:
e nesse auspicioso contexto, a ideia, o plano para chegar à felicidade, ou mais literalmente à falicidade..
Verdade que não era um plano honesto, mas era uma questão de vida ou morte que consistia no seguinte, embutindo uma mentira: iria doutrinar um jovem espadaúdo, viril e atlético a levá-lo no cangote na rota da fecundação e ele, com seu vasto conhecimento iria lhe indicando o caminho, os atalhos, e na suprema hora, entrariam os dois juntos, força e sabedoria, no paraíso da concepção.
Não lhe foi difícil encontrar o candidato ideal...havia muito galalau desiludido com o MBL, com o Mito, o Moro, cheio de energia e louco por uma aventura. Apenas não lhes entrava na cabeça a noção básica da biologia, que para o ato da concepção somente um, e não dois, podia penetrar no óvulo, cuja portinhola fechava-se automaticamente após o ingresso do primeiro e único.
E feito um peripatético Aristóteles, o velho espermatozóide ia doutrinando o seu discípulo, dia após dia, hora após hora, minuto após minuto, até que
surgiram os sinais da corrida, com aquele eflúvio de sangue e ar enchendo o corpo cavernoso peniano. Cumpria correr, disputar e vencer aquele louco estouro da boiada...
E se puseram em marcha, discípulo e mestre, ganhando preciosa dianteira...Até que, bem, até que...já antegozando a vitória final, o mestre, abrindo os olhos do sonho à realidade, bradou desesperadamente, com todos os seus pulmões:
- ...Pára, pára, paaaaraaa...!!! que é punheeeeêêê....!!!