Conto improvisado
Hermógenes Couto Pessoa, cansado do barulho de rock vindo do quarto da filha adolescente, resolveu descer ao porão para tomar um pouco do vinho que tinha lá guardado, confiando no silêncio do aposento subterrâneo. Só que, ao pisar numa tábua apodrecida, ela se rompeu e ele caiu desastrosamente por uma cavidade inesperada, e rolou por um infindável túnel oculto abaixo de sua casa.
Aos trambolhões chegou a um estranho aposento subterrâneo iluminado por luz difusa e avistou, incrédulo, uma menina com roupa típica de menina, sapatos, meias, saia azul, blusa branca com suspensórios. Cabelos louros bem penteados, uns dez anos de idade.
- Quem é você? - indagou ele, incrédulo.
- Sou Alice... estou buscando a saida desse lugar maluco. Ainda há pouco eu estava sendo perseguida por um monte de cartas.
- Cartas? Como podem cartas perseguir alguém?
- Não me pergunte. Elas fizeram exatamente isso. De onde você veio?
- Vim rolando por aí.
- Então me mostre o caminho, quero voltar à superfície!
- Está de brincadeira. Se eu voltar para casa acompanhado por uma menina desconhecida, a patroa me mata.
- Você está de brincadeira. Se a Rainha de Copas arrombar essa porta aí,vai matar a nós dois. vai mandar as cartas cortarem nossas cabeças.
- Escute, você não está delirando? Como é que você chegou aqui então?
- Passei pelo buraco da fechadura. Não sei se a Rainha vai conseguir me rastrear, mas não quero arriscar. Vamos embora!
- Espere aí! Que história é essa? A fechadura é pequena demais para você passar!
- E que eu comi o cogumelo e diminuí de tamanho, mas já aumentei de novo.
- Cogumelo? Que cogumelo?
- Esquece. Era o último pedaço. Agora me mostra o caminho, logo! Não podemos perder tempo!
- Do jeito que eu vim rolando não sei se vai ser possível subir... acho que é muito íngreme.
Súbito Hermógenes arregalou os olhos, sem acreditar no que via. Uma espécie de sorriso inumano surgira no ar, e em torno desse sorriso foi se desenhando um rosto felino, um gato sorridente e flutuante sem duvida nenhuma.
- O que... o que é isso?
- Ah, é o meu amigo gato desvanecente. Como é que você conseguiu passar pela porta?
- Ora, eu passo em qualquer lugar, minha menina. Quem é esse estafermo que está com você?
- O QUE??? Como se atreve, seu felino?
- Senhor - falou Alice - se alguém pode nos ajudar, é ele.
- E como é que um gato pode ajudar a gente?
O próprio gato risonho respondeu, estalando os dedos:
- Quer saber como? Chamando a fada Sininho, é claro!
- Como assim? - protestou Alice. - Ela nem é dessa história!
- Não seja burocrática, Alice. Veja, aqui está ela!
De fato a fadinha voadora já estava entre eles, tilintando e esvoaçando.
- Eu devo ter ficado maluco - murmurou Hermógenes.
- Vocês precisam é de um pouco de pó de pirlimpimpim - disse Sininho. - Tenham bons pensamentos e voem de volta para suas casas!
Ela espalhou o pó sobre eles. Alice foi a primeira a voar.
- Estou pensando na mamãe me contando histórias. Lá vou eu!
Hermógenes só conseguiu pensar numa cerveja gelada e em quebrar os discos de rock da filha. Mas esses pensamentos deram certo e ele também levantou vôo.
- Vão logo - disse o gato. - Esse pó não tem efeito permanente! Vocês só dispõem de alguns minutos!
- Adeus, gatinho! Se cuida! Obrigada, Sininho!
E Alice zarpou, seguida pelo Hermógenes.
- Essa rainha não vai matar o gato por nos ter ajudado?
- Que nada! Esse gato desaparece à vontade, ninguém pode matá-lo!
Foram subindo pelos túneis e numa bifurcação Alice separou-se dele.
- Minha casa é por aqui! Adeus, senhor... desculpe, mas não sei o seu nome!
Hermógenes nem teve tempo de dizer. Continuou voando até se ver de novo no porão, onde desmaiou. Acordou com a esposa a sacudi-lo:
- Vamos, homem, acorde! Onde já se viu tomar um porre de vinho no porão...
- Ei, calma, Estela! Não estou bêbado não!
- Ah, não? E esse cheiro de vinho?
- Bem, eu... espere aí! Cadê o buraco?
- Buraco? Que buraco?
- O buraco nas tábuas... e a garota... o gato... a fada...
- Para com isso, Hermógenes! Seu plano de saúde não paga tratamento psiquiátrico! Além disso um homem casado pode até sonhar com gatos, mas não com garotas e fadas! Você vai ter que me explicar isso direitinho!
Notas - Alice, personagem de Lewis Carrol (Alice no País das Maravilhas). Sininho, personagem de James Barrie em "Peter Pan".
Conto escrito diretamente no campo de texto da escrivaninha, sem prévio planejamento. Foi surgindo.
Imagem pinterest.
Hermógenes Couto Pessoa, cansado do barulho de rock vindo do quarto da filha adolescente, resolveu descer ao porão para tomar um pouco do vinho que tinha lá guardado, confiando no silêncio do aposento subterrâneo. Só que, ao pisar numa tábua apodrecida, ela se rompeu e ele caiu desastrosamente por uma cavidade inesperada, e rolou por um infindável túnel oculto abaixo de sua casa.
Aos trambolhões chegou a um estranho aposento subterrâneo iluminado por luz difusa e avistou, incrédulo, uma menina com roupa típica de menina, sapatos, meias, saia azul, blusa branca com suspensórios. Cabelos louros bem penteados, uns dez anos de idade.
- Quem é você? - indagou ele, incrédulo.
- Sou Alice... estou buscando a saida desse lugar maluco. Ainda há pouco eu estava sendo perseguida por um monte de cartas.
- Cartas? Como podem cartas perseguir alguém?
- Não me pergunte. Elas fizeram exatamente isso. De onde você veio?
- Vim rolando por aí.
- Então me mostre o caminho, quero voltar à superfície!
- Está de brincadeira. Se eu voltar para casa acompanhado por uma menina desconhecida, a patroa me mata.
- Você está de brincadeira. Se a Rainha de Copas arrombar essa porta aí,vai matar a nós dois. vai mandar as cartas cortarem nossas cabeças.
- Escute, você não está delirando? Como é que você chegou aqui então?
- Passei pelo buraco da fechadura. Não sei se a Rainha vai conseguir me rastrear, mas não quero arriscar. Vamos embora!
- Espere aí! Que história é essa? A fechadura é pequena demais para você passar!
- E que eu comi o cogumelo e diminuí de tamanho, mas já aumentei de novo.
- Cogumelo? Que cogumelo?
- Esquece. Era o último pedaço. Agora me mostra o caminho, logo! Não podemos perder tempo!
- Do jeito que eu vim rolando não sei se vai ser possível subir... acho que é muito íngreme.
Súbito Hermógenes arregalou os olhos, sem acreditar no que via. Uma espécie de sorriso inumano surgira no ar, e em torno desse sorriso foi se desenhando um rosto felino, um gato sorridente e flutuante sem duvida nenhuma.
- O que... o que é isso?
- Ah, é o meu amigo gato desvanecente. Como é que você conseguiu passar pela porta?
- Ora, eu passo em qualquer lugar, minha menina. Quem é esse estafermo que está com você?
- O QUE??? Como se atreve, seu felino?
- Senhor - falou Alice - se alguém pode nos ajudar, é ele.
- E como é que um gato pode ajudar a gente?
O próprio gato risonho respondeu, estalando os dedos:
- Quer saber como? Chamando a fada Sininho, é claro!
- Como assim? - protestou Alice. - Ela nem é dessa história!
- Não seja burocrática, Alice. Veja, aqui está ela!
De fato a fadinha voadora já estava entre eles, tilintando e esvoaçando.
- Eu devo ter ficado maluco - murmurou Hermógenes.
- Vocês precisam é de um pouco de pó de pirlimpimpim - disse Sininho. - Tenham bons pensamentos e voem de volta para suas casas!
Ela espalhou o pó sobre eles. Alice foi a primeira a voar.
- Estou pensando na mamãe me contando histórias. Lá vou eu!
Hermógenes só conseguiu pensar numa cerveja gelada e em quebrar os discos de rock da filha. Mas esses pensamentos deram certo e ele também levantou vôo.
- Vão logo - disse o gato. - Esse pó não tem efeito permanente! Vocês só dispõem de alguns minutos!
- Adeus, gatinho! Se cuida! Obrigada, Sininho!
E Alice zarpou, seguida pelo Hermógenes.
- Essa rainha não vai matar o gato por nos ter ajudado?
- Que nada! Esse gato desaparece à vontade, ninguém pode matá-lo!
Foram subindo pelos túneis e numa bifurcação Alice separou-se dele.
- Minha casa é por aqui! Adeus, senhor... desculpe, mas não sei o seu nome!
Hermógenes nem teve tempo de dizer. Continuou voando até se ver de novo no porão, onde desmaiou. Acordou com a esposa a sacudi-lo:
- Vamos, homem, acorde! Onde já se viu tomar um porre de vinho no porão...
- Ei, calma, Estela! Não estou bêbado não!
- Ah, não? E esse cheiro de vinho?
- Bem, eu... espere aí! Cadê o buraco?
- Buraco? Que buraco?
- O buraco nas tábuas... e a garota... o gato... a fada...
- Para com isso, Hermógenes! Seu plano de saúde não paga tratamento psiquiátrico! Além disso um homem casado pode até sonhar com gatos, mas não com garotas e fadas! Você vai ter que me explicar isso direitinho!
Notas - Alice, personagem de Lewis Carrol (Alice no País das Maravilhas). Sininho, personagem de James Barrie em "Peter Pan".
Conto escrito diretamente no campo de texto da escrivaninha, sem prévio planejamento. Foi surgindo.
Imagem pinterest.