243 A Confirmação
Arrastado pela tia, doíam-lhe, nos sapatos novos, os pés. Também a gola da camisa estava justa e o calor tornava tudo mais difícil. Seria crismado naquele dia, com pompa e circunstância, fosse lá o que fosse isso que ninguém explicara, que a catequista talvez não soubesse, que o Bispo, rotundo e mitrado, não disse. Quando chegou a sua vez reparou na pedra brilhante do seu anel, na estranheza do que em latim proferiu, no óleo santo que lhe marcou uma cruz na testa, no toque final dos dedos grossos a pedir que saísse para tudo se repetir na criança seguinte. O coro das beatas chegado ao fim do hino, repetia-o. Aleluia, aleluia! Ainda presa ao céu-da-boca a hóstia que não poderia, sabe-se lá porquê, ser tocada com os dentes era algo a que, não fosse o receio de ofender Deus, retiraria de bom grado, com o dedo. Depois de uma longuíssima hora, da prédica e do discurso do Bispo, do calor e dos dedos a precisarem urgentemente sair dos sapatos novos, a cerimónia acabou. À porta ainda as dores dos cumprimentos, que bonito estás, como cresceste, agora és dos nossos! O laço, com um cálice pintado, balançava os beijos e as festas. Havia uma merenda preparada no Salão Paroquial. Eram muitos a querer a limonada e as gasosas, a rejeitar os palitos de la Reine, a trincar pernas de frango. As senhoras da Organização não sabiam de nada mas Matilde chorou dizendo que, no meio da confusão que fora a entrada, o pai de um menino lhe apalpara o rabo. – Foi sem querer, pequenita, disse-lhe a mãe envergonhada puxando a adolescente para fora.