A CONTRIBUIÇÃO
— Hoje não é dia de ninguém morrer.
— É sim. Todo dia morre muitas pessoas para que outras possam nascer. O planetinha não suporta tanta gente, não dá para encher o pandú de todo mundo.
— Mas se bem que o mundo podia dar um tempo, um dia. Talvez hoje ou amanhã.
— Hoje já deve ter morrido um montão lá onde a tarde já começou. Japão, por exemplo, quantos já morreram hoje.
— Se bem que no Japão as pessoas têm a mania de viver muito.
— Mas lá tem o Death Note, lembra-se do filme?
— Aquilo é ficção, seu lesado. Death note não existe. Se bem que se existisse daria uma ajuda para nós. Na verdade o filme é uma adaptação do mangá.
— Então a gente precisa encontrar um.
— O mangá?
— Não. O livro.
— Mas primeiro a gente vai ter que discutir que dia é dia de morrer pessoas. O sol não se esconde atrás da montanha, não completar sua rotação, sem arrastar para a sepultura um tantão de pessoas que nem faço ideia de quantas.
— Talvez se a gente pesquisar na internet a gente vai saber quantas. Mas também o sol não se esconde antes de arrancar do ventre outras tantas. E mesmo depois que ele se vai, vem a noite que faz o mesmo, leva muitos e traz muito mais.
— Eta, você hoje está poético pra caramba.
— Eu tô mesmo é com o sangue fervendo na veia. Acho que a gente precisa dar a nossa contribuição quinzenal.
— Achei que se a gente desse um tempo ia ser melhor.
— Não, não vai ser melhor. Vai acumular. E por falar nisso, acho que hoje a gente poderia cumprir a nossa tarefa.
— Sim. Vamos cumprir hoje. Agora são quinze minutos depois da meia-noite. Tem como você vir até aqui?
— Tem. Dou um jeito aqui. Vai ser a vez das sedutoras ou dos idiotas?
— Das sedutoras. Na primeira quinzena são as sedutoras. Na segunda é que são os idiotas.
— Quantas sedutoras nós temos no estoque?
— Três. A Marineide, a Estefânia e a Thallyele. Quem nós vamos escolher?
— A que demonstrar mais medo. É mais emocionante quando você vê o terror extravasando pelos olhos delas.
—Vou descer lá no porão e ver qual demonstra mais desespero.
— Peraí, hoje não é dia dezessete? Então tem que ser um idiota.
—Ih, é mesmo. Temos só dois idiotas.
— Escolhe qualquer um aí então.
— Está bem, eu te espero aqui em vinte minutos.
— Saindo aqui, estarei aí rapidinho.
(...)
— Idiota, não sabe nem que dia dezessete já pertence à segunda quinzena do mês, e nem que rotação é a Terra que faz em volta de si. Mal sabe ele que o idiota a ser morto hoje vai ser ele mesmo. Não é isso Voz Que Vem do Além?