Derrière**

Aimée* viu-se deitada de bruços, em cima de uma mesa comprida, forrada com uma toalha quadriculada... estava nua em pelo. Seus longos cabelos ruivos cobriam-lhe as costas e os seios, mas seu derrière** estava bem visível, redondinho e bem torneado, empinado como devem ser os bumbuns que enlouquecem os homens. Suas longas pernas também eram exatamente como devem ser as belas pernas de uma mulher amada por todos... com as coxas grossas. Seu coração batia descompassado e a vergonha a fazia esconder seu rosto de finos traços e grandes olhos verdes entre os braços cruzados. De repente ouviu-se uma campainha estridente... passos ensurdecedores vinham do corredor. As portas se abriram e o refeitório logo se encheu de estudantes, garotos adolescentes, ruidosos e esfaimados... era hora do almoço. Um inspetor com uma faca elétrica ligada, postou-se ao lado de Aimée e a garotada rapidamente fez uma fila, com prato e talheres nas mãos. O homem, então, pôs-se a fatiar as coxas de Aimée que se arrepiava toda, mas, estranhamente, não parecia sentir dor, ao contrário... parecia estar sentindo um prazer imenso. O mais intrigante era que não jorrava sangue, mas um caldinho que parecia muito saboroso para os meninos que, antes de comerem as fatias, já comiam Aimée com os olhos e ela, satisfeita, pensava: “Como eles me amam! Como estão loucos para me comer!” Alguns dos garotos saíam, comiam rápido e voltavam para o início da fila porque estavam esperando, ansiosamente, que o bumbum fosse fatiado e servido, pois, para eles, essa era a parte mais apetitosa. Quando já não havia quase carnes nas coxas e pernas, o inspetor aproximou-se do bumbum de Aimée e já se preparava para fatiá-lo e distribuir os nacos desta parte mais nobre aos rapazes salivantes, quando o sinal tocou e tudo congelou... o sinal continuava tocando e não parava de tocar cada vez mais alto. Aimée abriu os olhos assustada e, com um certo desânimo, desligou o despertador... depois foi para o banheiro, fez xixi, lavou o rosto, escovou os dentes, prendeu os ruivos cabelos desgrenhados em um rabo de cavalo, tirou a camisola e arregalou os grandes olhos verdes para conferir-se nua, na frente do espelho. “Droga!”, pensou... “eu não podia ser gostosa e ter aquela bunda do meu sonho, em vez de ser assim, magricela e quase uma tábua?” Voltou ao quarto, vestiu o uniforme do colégio, pôs seus óculos, pegou a mochila e desceu apressada para tomar café. No caminho para a escola, no carro com sua mãe, quase não falou... ainda pensava no corpo da Aimée do seu sonho recorrente... lindo, com uma bunda arrebitada...queria tanto ser assim como ela, desejada e amada por todos... Saiu do transe dos seus pensamentos ao escutar o riso alto e a tagarelice sem noção de sua mãe que não parava de elogiá-la. Ela tinha recebido a notícia de que Aimée tinha sido considerada a melhor aluna, não só da sua classe, mas de toda a escola, o que a fez ganhar bolsa integral para todo o curso, até se formar... isso se deveu ao ótimo desempenho escolar da filha, com nota dez em todas as matérias. A mãe estava tão orgulhosa da sua menina e tão feliz que, quando o sinal fechava, a abraçava forte e a cobria de beijos. Embora Aimée se esquivasse, pedindo para a mãe se conter, bem que estava gostando de receber tanto amor. “Para, mammys!”, dizia. Foi aí que um sorriso tímido, a princípio, nasceu em seus lábios... um pensamento compensatório a fez sentir-se bem consigo mesma e uma alegria, ainda que efêmera, começou a tomar conta dela. Pensou, então: “É... posso não ser muito bonita, mas, com certeza sou a mais inteligente da escola e, por isso, acho que sou admirada. Quando eles se derem conta de como eu sou legal e generosa, vão me adorar, claro que vão... vou ser muito amada, afinal... e se não amarem, tô nem aí... o mundo vai reconhecer o meu valor e vai me amar, cedo ou tarde!”

*Aimée é amada em francês

**derrière é bumbum em francês.

Ouvindo Britney Spears - Piece Of Me (Legendado)

https://youtu.be/oGQ-h7Yq1QU

Dedico este conto à maravilhosa escritora e poetisa, Cristina Gaspar. Grata, por me inspirar, querida amiga. Beijos.