O chinol de Ana Maria

Em graça, charme e beleza, elas todas se rivalizavam e eram páreo duro e emocionante para qualquer alma masculina que lhes pusesse os olhos...Sobretudo naquele sábado de baile, com o salão iluminado e pra lá de chique do Automóvel Clube, bem no coração da pulsante Beagá dos meados e miados dos anos sessenta, do rock´n roll, dos Beatles, da jovem guarda buliçosa tomando lugar dos velhos românticos...

Mas Ana tinha o seu trunfo para sobrepujar aquela plêiade de ninfetas angelicais: o chinó...uma novidade vinda do Rio de Janeiro, que ia atiçar qualquer volúpia de moço mineiro, e por quê não, também forasteiro...?

O chinó, que primeiro ouvi como chinol, mas que o google agora me atualiza, sem querer atrasar o baile das moças... - vem da chiqueza toda francesa, chignon du cou...que nem vou me dar ao trabalho de escandir aqui, porque a orquestra já se posiciona, dandos os primeiros acordes...

E as moças estão em polvorosa. Sêo Carvalho, zeloso pai e guardião se dispôs a levá-las em sua kombi, e o trajeto será coberto sem percalços em menos de 15 minutos...

E elas são umas seis ou sete, pouco importa a precisão agora. O que conta é o embevecimento com o chinó de Ana, que lhe cai tão bem...

Saltemos o baile em si, que foi um sucesso indescritível, e inesquecível.

Mal se deu o último acorde de The Millionaire, Ana e suas companheiras vão atrás da carruagem encantada que certamente já as espera, só um tiquinho antes do alvorecer...sob os olhares cobiçosos da rapaziada, e mais que invejosos de mais da metade da plateia...

E qual o quê, mal Ana retomou seu lugar no banco traseiro...que sensação estranha, aquela coisa peluda sob as suas coxas... Num átimo gritou São Brás...! e reconheceu todo seu, o chinol que ficara pra trás...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 18/06/2020
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