Não saia de casa

Ao abrir a porta, ele a encontrou de pé, em prantos.

- O que houve? - Indagou, preocupado.

Ela abanou a cabeça, cobrindo o rosto com as mãos.

- Estou cansada disso tudo.

Ele a abraçou.

- Ei, calma. Não vai durar para sempre.

- Foi o que disseram, duas semanas atrás; e até agora, nada - ela soluçou.

- Precisam ter certeza de que será seguro sair - afirmou ele.

- E se não forem embora? Ficaremos aqui presos para sempre? - Insistiu ela.

Ele a soltou e afastou ligeiramente a cortina da janela do quarto. Lá embaixo, na rua, sob a luz dos postes de iluminação, podiam ser vistos pequenos grupos de aves grandes, que circulavam despreocupadamente. Algumas, tinham as penas brancas manchadas de sangue.

Como se houvesse percebido o sutil movimento na cortina, uma das aves ergueu a cabeça para o alto e entreabriu o bico. À luz das lâmpadas de vapor de sódio, seus dentes brilharam de modo sinistro.

- [13-06-2020]