O CAÇADOR
O CAÇADOR
- Zé Maria!! Zé Maria!!! Acorde homem, tem um animal destruindo toda casa!!
No sono existiam sonhos tão bons... porque será que este vinha diferente dos outros?
Zé Maria não quer acordar, mas a mulher Maria José puxa-lhe os cobertores, arranca-lhe os travesseiros e empurra-o da cama:
- Acorde homem!! Acorde! senão ficaremos até sem casa!!
Muito devagar ele vai despertando, o estrondo de uma cadeira caindo na cozinha acaba por precipitar este despertar....
Ele presta atenção e vai ouvindo ruídos sugestivos na cozinha, na copa e até na sala!
- Não é ladrão – diz o homem – porque gatunos são silenciosos, que será isto?
- Sei lá, você não é o homem da casa? vá verificar homem de Deus! – responde a mulher....
- E se for bravo? E se ele me machucar, me matar?
- Ora marido...você é um homem ou uma avestruz?
Depois de um diálogo com este em plena madrugada, não restava ao pobre homem nada a fazer senão seguir as ordens da esposa. Abre a porta do quarto bem devagar, e sai para o corredor andando de leve a fim de não ser percebido pelo bicho....
Procura na sala... ouve um vaso derrubado na copa. Vai até à copa, os estranhos ruídos são agora ouvidos no quarto de hóspedes.
- Que diabos de animal é este capaz de mover-se de um cômodo ao outro com tanta rapidez? – pensa o Zé com seus botões.
Tranca a porta do quarto e vai até à cozinha, que desastre: o bolo deixado sobre a mesa para esfriar está todo destruído! Farelos formam um rastilho por toda parte.... opa! O barulho está na sala de televisão!
Zé Maria mais que depressa, puxa uma poltrona para cercar a porta da sala de tv, mune-se de um cabo de vassoura e parte na escuridão para dar umas pauladas no destruidor de seu café da manhã...
Bate daqui, bate de lá, bate às cegas porque não vê nada... mas percebe que a criatura o está driblando com esperteza....
De repente, sente um coice no peito e cai de traseiro no chão. O bicho usara-o como trampolim para pular a poltrona e fugir dali!!!
- Nossa! – pensa o homem caído - Este é grande mesmo.... cabo de vassoura é pouco para ele...
- Maria José – grita ele – traga minha espingarda de chumbinhos!!!
Vem lá de dentro a pobre senhora toda descabelada, com os olhos quase a sair das órbitas e o rosto amassado pelas dobras das fronhas:
- Está aqui meu querido – diz ela - é uma fera? Precisa usar realmente isto?
- Pior mulher, bem pior que imaginas... se não for na base do tiro, não teremos mais paz!
- Aaaai! – soluça a coitada - amanhã seremos notícia no jornal : Fera invade residência na cidade e mata casal...
- Deixe de ser tola mulher! Vou matar esta criatura....
- Mas atirando? A vizinhança vai acordar assustada....
- Que assim seja! – esbraveja ele; sem mais demora, sai para o quintal atrás do malfadado.
Zé Maria vê alguma coisa entre as flores bem cultivadas de sua esposa, coloca um chumbinho na espingarda, atira... e erra!
O bicho corre para o canteiro de couves e o homem repete a operação: coloca outro chumbinho, mira bem, puxa o gatilho... droga! Errou de novo! O anima foge para o canteiro de agrião, destruindo antes o de cebolinhas....
Ajusta o visor da arma, coloca nova munição...visa, visa já com o dedo na posição de tiro... escapuliu!!!
Depois de atirar e errar uma centena de vezes, a caixinha de chumbinhos já no final, o pobre senhor cansado, nervoso e com sono continua persistente a caçada...
O dia já vem alto, quando finalmente ele consegue acertar um tiro...
Enquanto isto, a vizinhança pensando que estava havendo uma carnificina naquela residência, chama a polícia...
Foram tantos telefonemas que movimentou toda corporação: chegou na porta do casal, um verdadeiro aparato policial: contendo vinte carros com as sirenes ligadas, fazendo um barulho infernal....
Cinco minutos de silêncio... um dos cinqüenta policiais mais corajoso, toca a campainha para ver se restava alguma pessoa viva ali... Os outros quarenta e nove, escondem-se atrás dos carros, dos muros e até das lixeiras em posição de tiro....
Esperam... esperam.... e....
Qual não foi a Surpresa de todos quando José Maria abre pessoalmente o portão, ainda segurando pelo rabo o resultado de sua caçada: um baita rato pesando mais de meio quilo!!!
Imaculada Catarina